O presidente Javier Milei está enfrentando críticas após suas medidas para conter a desvalorização do peso argentino frente ao dólar terem gerado uma reação negativa no mercado. Atualmente, o governo fixou a taxa de câmbio oficial em aproximadamente 960 pesos por dólar, enquanto no mercado paralelo a cotação chegou a quase 1.500 pesos por dólar neste mês.
Em um esforço para estabilizar o peso, Milei anunciou que o banco central apertaria as regras para imprimir dinheiro, reduzindo a oferta monetária, e começaria a usar reservas de moeda estrangeira para comprar pesos no mercado paralelo.
“Se eu desligar todas as torneiras para imprimir dinheiro, o problema acaba”, afirmou Milei à emissora LN+. No entanto, o mercado de ações caiu até 12,3% e os títulos soberanos denominados em dólares desvalorizaram até 11,3%, antes de se recuperarem parcialmente.
Críticas e desafios
Críticos consideram as novas medidas de curto prazo e inconsistentes. A dificuldade em acumular reservas de moeda estrangeira pode atrasar o levantamento dos controles cambiais, essencial para atrair investimentos estrangeiros e promover crescimento econômico. Isso também aumenta a possibilidade de o governo não conseguir honrar mais de US$ 9 bilhões em pagamentos de dívida em moeda estrangeira no próximo ano.
Juan Pazos, economista-chefe da TPGC Valores, destacou que “estão sacrificando o objetivo de acumular reservas para reprimir a volatilidade da taxa de câmbio”, corroendo a confiança dos investidores. Amilcar Collante, professor de economia da Universidade Nacional de La Plata, acrescentou que, embora Milei tenha conseguido inicialmente reduzir a inflação, há uma sensação de que agora está apenas apagando incêndios.
Relacionamento com o FMI e perspectivas futuras
As medidas para apoiar o peso também podem complicar as negociações com o FMI sobre um possível novo empréstimo para a Argentina, que já deve ao fundo US$ 43 bilhões. O presidente descartou preocupações, culpando a volatilidade nos bancos locais e acusando um deles de tentar desestabilizar o governo.
O ministro da Economia, Luis Caputo, defendeu a política do governo de reduzir a quantidade de pesos em circulação, afirmando que o peso se tornará uma moeda forte. Entretanto, líderes empresariais alertam que a desvalorização lenta do peso está prejudicando a competitividade das exportações.
Analistas acreditam que o governo precisa encontrar uma grande quantidade de dólares para o banco central nos próximos dois meses, ou terá que desvalorizar o peso. Fontes de dólares existem, mas acessar essas reservas é difícil devido à baixa competitividade da taxa de câmbio e aos baixos preços internacionais das commodities.
Sebastián Menescaldi, diretor da consultoria EcoGo, argumentou que as medidas de emergência devem ser substituídas por um plano de longo prazo. Gabriel Caamaño, economista da consultoria financeira Ledesma, sugere que o governo ainda tem tempo para corrigir o rumo com algumas boas decisões.
Em suma, enquanto o governo Milei tenta manter a inflação sob controle e ganhar a confiança dos investidores, a estabilidade econômica a longo prazo ainda é um desafio considerável.