A inflação na Argentina alcançou novos patamares em agosto, evidenciando os desafios econômicos enfrentados pelo país. A inflação anual subiu para 236,7%, uma aceleração em relação ao mês anterior, e o país experimenta uma grave contração econômica. Este cenário é exacerbado pelas medidas econômicas implementadas pelo presidente Javier Milei, cujos efeitos estão sendo amplamente sentidos na economia.
Alta da inflação e seus impactos
Em agosto, a inflação foi de 4,2%, acumulando um aumento de 236,7% nos últimos 12 meses, conforme dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Esse crescimento é um leve aumento em relação ao mês anterior, quando a inflação era de 4,0% e o acumulado em 12 meses era de 236,4%. No ano de 2024, até o momento, a inflação já acumula uma alta de 94,8%.
Os principais grupos afetados pela inflação em agosto foram Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, com uma alta de 7,0%, e Educação, com um aumento de 6,6%. Outros setores também foram impactados, como Transporte (5,1%), Comunicação (4,9%) e Restaurantes e Hotéis (4,8%). Em Buenos Aires, os preços de Transporte pesaram mais sobre o orçamento dos consumidores, enquanto em outras regiões o impacto foi mais forte em Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas, principalmente devido ao aumento nos preços de carnes e vegetais.
Contração econômica e medidas de ajuste
A economia argentina enfrentou uma contração de 3,9% em junho, em comparação com o mesmo mês do ano passado, superando as expectativas do mercado que previam uma queda menor. Este recuo vem após uma alta de 2,3% em maio, impulsionada pelo setor agrícola e pecuário, que teve um crescimento anual de 100%. No entanto, a economia não conseguiu sustentar esse crescimento, refletindo as dificuldades impostas pelas medidas econômicas de Milei.
O setor de construção caiu 24% e a atividade industrial despencou 20% na comparação anual. As medidas de ajuste promovidas por Milei incluem a eliminação de subsídios a serviços essenciais e a paralisação de obras federais, resultando em um aumento significativo dos preços e uma contração do gasto público.
Efeitos das medidas econômicas na Argentina
Desde que Milei assumiu a presidência, as tarifas de água, gás, luz e transporte público foram descontinuadas, e houve uma interrupção nos repasses financeiros para os estados. Essas medidas, embora tenham contribuído para um superávit fiscal no primeiro trimestre de 2024 e uma desaceleração da inflação, também resultaram em uma significativa crise econômica.
O superávit, o primeiro desde 2008, levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a liberar cerca de US$ 800 milhões para a Argentina. No entanto, especialistas apontam que o superávit decorre principalmente da redução dos gastos, não do aumento das receitas, o que pode não ser sustentável a longo prazo.
A crise econômica intensificou o desemprego e reduziu salários e aposentadorias, afetando diretamente a qualidade de vida da população. Atualmente, 41,7% da população argentina vive abaixo da linha da pobreza. A redução no consumo, incluindo o consumo de carne, tradicional na Argentina, é uma das consequências visíveis dessa crise.
Perspectivas futuras
A expectativa é que, com a continuidade da redução do consumo, a inflação possa começar a desacelerar. No entanto, o impacto das medidas de Milei e a atual contração econômica continuam a representar desafios significativos para o país. A situação econômica da Argentina permanece incerta, com a população e os analistas atentos às possíveis evoluções das políticas e seus efeitos na vida cotidiana dos argentinos.