O ano de 2024 encerrou com um cenário desafiador para a economia brasileira: a inflação ultrapassou o teto da meta do Banco Central e o preço da carne bovina registrou a maior alta em cinco anos, impactando diretamente o custo de vida. Esses dois fatores criam um ambiente de pressão econômica que deve persistir em 2025.
Inflação acima da meta
A inflação acumulada de 2024 foi de 4,83%, segundo o IBGE, superando o teto da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5%. Apesar de um leve alívio no índice de dezembro, que ficou em 0,52%, os preços de alimentos, especialmente carnes, foram os principais vilões, enquanto transporte e vestuário também contribuíram para o aumento.
O Banco Central respondeu ao cenário com sucessivos aumentos na taxa básica de juros, que encerrou o ano em 12,25%, e sinalizou novas altas em 2025. Economistas projetam que a inflação continuará alta até o terceiro trimestre, com redução esperada apenas no final do ano.
Entre os itens que mais impactaram a inflação de 2024, a carne bovina registrou alta de 20,84%, segundo o IBGE. Foi o maior aumento desde 2019, com cortes populares como acém (25,2%), patinho (24%) e contrafilé (20%) liderando a subida. Essa alta foi atribuída a quatro fatores principais:
- Ciclo pecuário: A redução de abates nos últimos meses de 2024 diminuiu a oferta de bovinos, enquanto os pecuaristas optaram por manter vacas para reprodução.
- Clima: Secas e queimadas prejudicaram a formação de pastos, principal alimento dos bois.
- Exportações: O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, bateu recordes de vendas em 2024, reduzindo a oferta no mercado interno.
- Renda: A queda no desemprego e a valorização do salário mínimo aumentaram a demanda por carne.
Previsões para 2025 e 2026
Especialistas alertam que os preços da carne bovina devem continuar subindo em 2025, com possibilidade de pressão até 2026. A alta no custo do bezerro, que subiu 32% entre julho e dezembro de 2024, sugere um aumento nos custos de produção. Como leva cerca de dois anos para que um bezerro se torne um boi gordo pronto para abate, a oferta de carne continuará limitada no curto prazo.
Segundo Allan Maia, da Safras & Mercado, e Felippe Serigati, da FGV, a retenção de vacas para reprodução deve agravar a escassez no mercado, resultando em preços elevados para o consumidor final.
Com alimentos, especialmente carnes, pressionando a inflação, e juros altos encarecendo o crédito, o orçamento das famílias brasileiras permanece sob estresse. A combinação de fatores econômicos e climáticos, aliada à dinâmica da pecuária, cria um cenário em que os preços devem permanecer altos, desafiando a estabilidade financeira em 2025.