Indígenas isolados na Amazônia enfrentam riscos crescentes com avanço do garimpo e desmatamento

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

Registros inéditos feitos pelo Fantástico revelam a luta pela sobrevivência dos Kawahiva do Rio Pardo, um dos povos indígenas isolados da Amazônia, que enfrentam ameaças constantes devido ao avanço do garimpo e da destruição ambiental.

A expedição percorreu mais de 120 quilômetros floresta adentro, registrando vestígios da presença dos indígenas, como castanheiras derrubadas para extração de alimento e armadilhas de caça. Além disso, a equipe da Funai encontrou um tapiri, espécie de abrigo típico dos Kawahiva, indicando que o grupo havia passado recentemente pela região.

Rodrigo Ayres, indigenista da Funai, destacou a importância desse monitoramento para comprovar a ocupação do território e garantir a proteção dos indígenas.

“A partir dessas informações, conseguimos verificar que eles estão bem e comprovar sua existência”, explicou.

Registros raros e monitoramento constante

Uma das estratégias utilizadas pela Funai para monitoramento dos Kawahiva é a instalação de câmeras escondidas na floresta. Em 2021, uma dessas câmeras captou um indígena carregando um arco e flechas. Mais recentemente, em dezembro de 2024, outro registro mostrou um indígena ignorando os objetos deixados pela equipe, retornando em seguida com um cesto e seu arco.

“Esse tipo de imagem é essencial para o nosso trabalho, pois nos permite entender melhor as características atuais desses indígenas”, afirmou Marcos Aurélio Tosta, coordenador-geral de indígenas isolados da Funai.

Pressão e riscos iminentes

Os Kawahiva vivem em uma das áreas mais pressionadas pelo desmatamento e pela presença de invasores. A base da Funai na região já foi alvo de ataques armados em 2018, tornando essencial a proteção da Força Nacional.

Além disso, os próprios agentes da Funai enfrentam riscos constantes. Um registro feito em 2011 flagrou um encontro entre um indigenista e um Kawahiva, que, em defesa, apontou seu arco e flecha antes de recuar.

“É um trabalho difícil, ficamos longe da família, mas estamos protegendo os nossos parentes e o território deles”, comentou André Tangyp, membro da equipe de monitoramento.

Futuro incerto

A presença dos Kawahiva foi confirmada em 1999, e desde então, expedições de monitoramento são realizadas regularmente. A estimativa é que o grupo tenha entre 40 e 50 indivíduos, espalhados em pequenos grupos nômades.

No entanto, apesar do reconhecimento do território indígena em 2016, a demarcação ainda não foi realizada. Segundo a Constituição Brasileira, é dever do governo identificar e proteger os povos isolados, mas sem a demarcação oficial, os Kawahiva permanecem vulneráveis ao avanço de atividades ilegais na região.

A luta pela sobrevivência desses indígenas segue como um desafio, enquanto o futuro da Amazônia continua ameaçado por interesses econômicos e ambientais conflitantes.