Na Colômbia, grupos dissidentes das Farc têm recorrido ao TikTok como uma ferramenta de recrutamento crescente, aproveitando a lacuna deixada pela falta de um acordo de paz abrangente entre o governo e essas facções armadas. Autoridades reportam que, somente em 2023, pelo menos 189 jovens foram recrutados, com um aumento para mais de 150 casos até o presente ano.
Crescimento da Influência no TikTok
Segundo investigação da BBC, vídeos de recrutamento têm se multiplicado na plataforma, iniciados por membros dos grupos dissidentes. Lorena (nome fictício), uma professora de 30 anos da região rural de Cauca, descreve como a tendência começa entre os alunos: “A moda começa com um ou dois alunos assistindo aos vídeos em sala de aula”, observa ela.
Ela relata que os estudantes frequentemente imitam símbolos das antigas Farc no quadro-negro e dançam ao som de músicas revolucionárias. Esse comportamento pró-guerrilha, segundo Lorena, se tornou mais comum e explícito desde o aumento do acesso dos jovens às redes sociais durante a pandemia de Covid-19.
Persistência das Farc em Cauca
Apesar da desmobilização oficial das Farc e do acordo de paz assinado em 2016, facções dissidentes permanecem ativas em áreas como Cauca. Agrupadas sob o nome de Estado Mayor Central (EMC), essas facções contam com mais de 3.000 membros e continuam operando, financiadas principalmente pelo tráfico de drogas.
O recrutamento de crianças e adolescentes por esses grupos é um desafio contínuo na Colômbia. Em 2023, pelo menos 184 jovens foram recrutados, e até junho deste ano, 159 menores de 18 anos se alistaram, sendo 124 de Cauca.
Impacto das Redes Sociais
A estratégia de uso do TikTok pelos guerrilheiros colombianos inclui vídeos que mostram um estilo de vida atraente, mas omitem os perigos associados à adesão a um grupo armado. Muitos vídeos têm linguagem direta de recrutamento e incentivam os espectadores a se juntarem às facções, frequentemente gerando interesse de potenciais recrutas nos comentários.
Embora várias contas que postaram esse conteúdo tenham sido banidas pelo TikTok, novos vídeos continuam a surgir, dificultando os esforços das autoridades colombianas para controlar essa forma de recrutamento.
Resposta e Desafios
As autoridades colombianas reconhecem a complexidade de monitorar e moderar o conteúdo nas redes sociais. A Defensoria Pública da Colômbia estabeleceu uma equipe dedicada ao problema, mas enfrenta desafios significativos em seu combate ao recrutamento online.
Enquanto isso, professores como Lorena estão na linha de frente, tentando proteger seus alunos da influência dos guerrilheiros. Ela e colegas criaram uma rede escolar para monitorar atividades nas redes sociais e oferecer suporte aos estudantes em risco.
O uso do TikTok pelos guerrilheiros colombianos para recrutar jovens representa um desafio sério para a segurança e estabilidade da Colômbia pós-conflito. Enquanto o país busca consolidar a paz, as redes sociais emergem como uma nova arena onde antigos conflitos se reinventam, atraindo uma nova geração vulnerável.
Este problema requer uma abordagem abrangente que combine educação, vigilância digital e políticas públicas eficazes para desencorajar o recrutamento de jovens para o conflito armado.
Texto inspirado em reportagem especial de BBC News