Idosa analfabeta vira “presidente” de entidade suspeita de fraude bilionária no INSS

Francisca da Silva de Souza, 72 anos, mora na periferia de Fortaleza, é viúva, pensionista do INSS e complementa a renda como manicure. Embora leve uma vida simples, aparece nos registros como presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen).

A entidade, que chegou a reunir quase meio milhão de associados em 2024, é investigada por descontar mensalidades sem autorização diretamente de aposentadorias. Estima-se que o esquema possa ter causado um rombo de até R$ 6 bilhões, segundo a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União.

“Laranja” de um golpe

A Defensoria Pública do Ceará entrou com ação pedindo que Francisca seja retirada da direção da entidade. Segundo o órgão, ela foi enganada ao assinar documentos apresentados como um contrato de empréstimo. Na prática, esses papéis a transformaram em dirigente formal da Aapen.

Desde então, a idosa começou a receber centenas de cobranças. Hoje já soma mais de 200 processos na Justiça. “Ela é uma hipervulnerável enganada por pessoas inescrupulosas”, afirma a Defensoria.

Francisca apresentou trocas de mensagens e áudios com advogados que a convenceram a assinar os papéis. Em um dos diálogos, ela relata o medo de ter o CPF cancelado. O advogado responde dizendo que esse risco não existia.

CPI e investigações em andamento

A Aapen já foi presidida por Cecilia Rodrigues da Mota, advogada do Ceará investigada na Operação Sem Desconto. Ela também liderava outra entidade suspeita, a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB).

Relatórios da PF indicam que dirigentes de ao menos dez associações podem ser laranjas, entre eles o nome de Francisca. O inquérito aponta ainda que escritórios ligados a Cecilia movimentaram recursos para empresas associadas a familiares de servidores do INSS.

Atualmente, há 13 investigações em curso em diferentes estados. A PF já bloqueou contas bancárias e apreendeu bens avaliados em R$ 176,7 milhões. Dois investigados permanecem presos preventivamente.

Enquanto isso, no Congresso, foi instalada a CPI mista do INSS para apurar o esquema. A expectativa é de que novas revelações aprofundem a dimensão das fraudes.