IBGE aponta queda da pobreza no Brasil e registra menor nível da série histórica em 2024

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

A pobreza e a extrema pobreza registraram nova queda em 2024 e alcançaram os menores valores desde o início da série histórica, em 2012. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo o levantamento, 23,1% da população vivia em situação de pobreza no ano passado. Já a extrema pobreza atingiu 3,5%, após reduções observadas desde 2022.

Redução dos índices e fatores associados

De acordo com o IBGE, a queda ocorreu em um cenário marcado pela recuperação gradual do mercado de trabalho. Além disso, o pagamento contínuo de benefícios sociais, como o Bolsa Família, contribuiu para a diminuição dos indicadores. Ainda assim, o instituto destacou que persistem diferenças regionais e desigualdades relacionadas à cor ou raça.

A queda da pobreza foi de 4,2 pontos percentuais em relação a 2023. Assim, o total passou de 27,3% para 23,1%. Em números absolutos, cerca de 57,6 milhões de pessoas viviam nessa condição em 2023. Em 2024, o contingente caiu para 48,9 milhões. Esse número, embora menor que em anos anteriores, ainda supera a população total do estado de São Paulo.

A extrema pobreza também apresentou retração. O índice passou de 4,4% em 2023 para 3,5% em 2024. No período, cerca de 1,9 milhão de pessoas deixaram essa condição. O total de indivíduos em extrema pobreza chegou a 7,4 milhões, valor semelhante ao tamanho populacional de estados médios do país.

Segundo o IBGE, os dois indicadores vêm caindo desde 2022. A sequência ocorre após o aumento registrado em 2021, quando os efeitos da pandemia pressionaram os índices para os maiores níveis da série. O pesquisador André Simões, do instituto, afirmou que tanto o aquecimento do mercado de trabalho quanto as transferências de renda influenciaram a melhora observada nos últimos três anos.

O IBGE também apresentou uma simulação sem o pagamento de programas sociais. Nesse cenário hipotético, a taxa de pobreza teria alcançado 28,7% em 2024. Já a extrema pobreza chegaria a 10%, e não aos 3,5% medidos. Os dados integram a publicação Síntese de Indicadores Sociais, que analisa condições de vida, renda, mercado de trabalho e educação.

Critérios utilizados e diferenças regionais

Para calcular os indicadores, o IBGE utilizou parâmetros do Banco Mundial. A linha de pobreza considera pessoas com renda diária inferior a US$ 6,85 em paridade de poder de compra. Já a extrema pobreza corresponde a uma renda menor que US$ 2,15 por dia. Em valores de 2024, essas faixas equivalem a cerca de R$ 694 e R$ 218 por mês, respectivamente.

As taxas recuaram em todas as regiões do país. Contudo, Norte e Nordeste permaneceram acima da média nacional. O Nordeste registrou 39,4% de pessoas em situação de pobreza. O Norte marcou 35,9%. No Sul, a taxa ficou em 11,2%. Já no Centro-Oeste e no Sudeste, os valores foram de 15,4% e 15,6%.

No recorte de extrema pobreza, o padrão se repetiu. Sul, Centro-Oeste e Sudeste registraram 1,5%, 1,6% e 2,3%, todos abaixo da média nacional de 3,5%. Já o Nordeste marcou 6,5%, enquanto o Norte atingiu 4,6%.

As diferenças também apareceram no recorte de cor ou raça. Cerca de 29,8% da população parda estava na pobreza em 2024, valor superior ao registrado entre brancos (15,1%) e pretos (25,8%). A extrema pobreza atingiu 4,5% dos pardos, 2,2% dos brancos e 3,9% dos pretos.

O estudo também apontou diferenças por faixa etária. Crianças e adolescentes de 0 a 14 anos registraram os maiores percentuais: 39,7% em situação de pobreza e 5,6% em extrema pobreza. Entre a população idosa, os índices caíram para 8,3% e 1,9%.

Desigualdade registra menor nível da série, mas projeções mostram cenário distinto sem benefícios sociais

O levantamento também analisou o índice de Gini, que mede a distribuição de renda. O indicador caiu de 0,517 em 2023 para 0,504 em 2024, atingindo o menor valor da série. A queda já havia sido antecipada em maio, embora os dados finais tenham sido atualizados após a revisão das projeções populacionais da Pnad Contínua.

O IBGE observou que o índice pode ter limitações ao medir rendimentos muito altos. Nesse sentido, estudo recente do Ministério da Fazenda analisou dados de declarantes do Imposto de Renda. O trabalho apontou que o grupo formado pelos 0,01% mais ricos pagou uma alíquota efetiva de 4,6% em 2023.

O rendimento dos 20% mais ricos também permaneceu distante da média dos 20% mais pobres. Em 2022, os mais ricos receberam 11,2 vezes mais que os mais pobres. Conforme a OCDE, apenas a Costa Rica apresentou disparidade maior entre quarenta países avaliados no mesmo período. A média da organização foi de 5,3 vezes.

O IBGE afirmou que não publicou comparações internacionais das taxas de pobreza de 2024. Segundo o instituto, ajustes metodológicos feitos pelo Banco Mundial impedem que esses dados sejam diretamente comparados a séries de outros países.