Em resposta à escalada da violência, o governo do Haiti anunciou que enviará 400 policiais ao Brasil no próximo mês para um programa de treinamento. A medida faz parte de uma força-tarefa que tenta conter o domínio crescente das gangues armadas, que já controlam até 90% da capital, Porto Príncipe.
A decisão foi confirmada por Fritz Alphonse Jean, presidente do conselho de transição, durante uma coletiva de imprensa voltada à mídia internacional. Segundo ele, o Haiti está fragilizado e precisa de treinamento especializado para fortalecer suas forças de segurança.
Além disso, outros 150 soldados haitianos foram enviados ao México na semana passada. No total, 700 policiais e militares serão treinados por países aliados nos próximos meses. Todos devem integrar, posteriormente, a missão liderada pelo Quênia com apoio da ONU, que tem como objetivo combater diretamente as gangues no território haitiano.
Crise humanitária e impasse eleitoral se agravam
Atualmente, o Haiti conta com apenas 10 mil policiais e 1.300 soldados para proteger quase 12 milhões de habitantes. Por isso, a situação se tornou insustentável. De outubro de 2024 a junho de 2025, mais de 4.800 pessoas foram mortas por grupos criminosos. Conforme relatórios da ONU, centenas de vítimas também foram sequestradas, estupradas ou traficadas.
Como consequência da violência, mais de 1,3 milhão de haitianos foram forçados a deixar suas casas. Muitos agora vivem em escolas, abrigos improvisados ou estruturas temporárias. O governo começou a distribuir ajuda financeira a parte da população deslocada. No entanto, a insegurança continua sendo um obstáculo para o retorno dessas famílias.
Paralelamente, o país enfrenta um impasse institucional. O Haiti não realiza eleições gerais desde 2016, e a crise se agravou com o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021. A meta do governo de transição é realizar um novo pleito até fevereiro de 2026. Contudo, a violência em curso ameaça esse calendário.
“Estamos fazendo todo o possível para viabilizar as eleições”, afirmou Fritz Jean, embora tenha evitado apresentar uma data concreta para a votação.