O governo brasileiro está preparando uma campanha para combater a disseminação de fake news sobre um popular sistema de pagamento instantâneo que tem prejudicado a reputação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro das Comunicações, Sidonio Palmeira, liderará a iniciativa para reforçar a mensagem de que o Pix — que tem mais de 150 milhões de usuários — continua sendo um método de pagamento seguro, confidencial e isento de impostos, segundo duas fontes com conhecimento do assunto. A campanha buscará desmentir falsos rumores de que o governo pretende cobrar taxas sobre transações realizadas pelo sistema.
Mais amplamente, a iniciativa visa fortalecer a imagem do presidente e intensificar os esforços para alcançar eleitores nas redes sociais, à medida que Lula entra na segunda metade de seu mandato.
Lula corre para conter uma controvérsia iniciada na semana passada, quando o deputado de oposição Nikolas Ferreira, aproveitando uma onda de rumores sobre o Pix, chamou a atenção para os planos do governo de aumentar a supervisão da plataforma de pagamentos. Em um vídeo cuidadosamente produzido, Ferreira sugeriu que essa maior fiscalização poderia abrir caminho para a tributação do sistema.
O número de transações caiu drasticamente após a publicação do vídeo, que já foi visto mais de 300 milhões de vezes. A repercussão levou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a desmentir os boatos sobre novos impostos e forçou o governo a recuar nos planos de supervisão da plataforma.
Primeira crise enfretada
Esta é a primeira crise enfrentada por Palmeira, que assumiu o cargo neste mês como parte de uma estratégia para ajudar o presidente a lidar com desafios crescentes.
O governo publicou uma medida provisória reafirmando que o Pix não será taxado, e o Banco Central também entrou na disputa, divulgando um vídeo em suas redes sociais para desmentir as alegações falsas. Enquanto isso, Haddad está sendo aconselhado a conceder mais entrevistas a veículos de comunicação que atingem a população em geral, e está reforçando seus esforços para destacar o crescimento econômico e os programas sociais.
Ainda assim, a polêmica sobre o Pix aumentou as preocupações sobre as chances de reeleição de Lula em 2026, já que sua aprovação caiu abaixo de 50% e muitos brasileiros acreditam que a economia está ruim e pode piorar.
Embora o desemprego esteja em um nível historicamente baixo, o real desvalorizou cerca de 19% no último ano, o que impulsionou a inflação acima da meta e elevou as expectativas de que o Banco Central será forçado a aumentar os juros para 15% até dezembro.
O Pix, uma plataforma digital semelhante ao Venmo ou Zelle, lançada pelo Banco Central em 2020, rapidamente se tornou um dos métodos de pagamento mais populares do Brasil, superando os cartões de crédito e débito. Em meados de dezembro, o sistema bateu um recorde, com mais de 252 milhões de transações em um único dia, segundo dados do Banco Central.
Combate a fake news
O sistema permite que qualquer pessoa com uma conta bancária envie e receba reais instantaneamente. Ele é particularmente importante para pequenos empresários, que conseguem receber seus lucros na hora, sem precisar esperar dias para que pagamentos com cartão de crédito sejam compensados.
Em 2021, um projeto de lei proibindo a cobrança de taxas sobre o Pix foi apresentado no Congresso, mas o debate sobre a proposta nunca avançou.
“O governo já deixou claro, por meio de suas medidas, que o Pix continua forte”, disse o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a jornalistas nesta segunda-feira. “O Pix é uma forma de integrar a sociedade e seu uso se expandiu. A taxação do Pix nunca foi considerada.”