O governo brasileiro mobilizou quase 1.500 bombeiros para enfrentar os incêndios florestais que devastam a Amazônia, intensificados pela mais grave seca dos últimos tempos. A vegetação normalmente úmida da floresta, transformada em combustível inflamável pela seca, está alimentando as chamas.
Desde o início do ano, foram registrados cerca de 59.000 incêndios na floresta, o maior número desde 2008, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha promovido uma redução significativa na taxa de desmatamento desde janeiro de 2023, a atual temporada de incêndios está devastando a cidade de Porto Velho, que enfrenta uma nuvem de fumaça prejudicial à saúde de seus 540.000 habitantes.
Os “rios voadores”, fontes naturais de umidade sobre a maior floresta tropical do mundo, foram substituídos por densas plumas de fumaça. O impacto é visível em outros biomas brasileiros, como o Pantanal, cujos incêndios foram exacerbados pela mudança climática provocada por atividades humanas, conforme estudo de cientistas internacionais.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, atribuiu a gravidade dos incêndios às mudanças climáticas causadas pelo homem.
“Observamos um agravamento das mudanças climáticas. Tivemos um período de El Niño, mudanças na temperatura das diversas regiões, aquecimento dos oceanos e uma série de problemas que estão intensificando a situação”, afirmou Silva.
Medidas de Emergência e Preocupações Futuras
Na quarta-feira, o governo anunciou a mobilização de 1.489 bombeiros para combater os incêndios mais recentes. Nos últimos 30 dias, mais da metade dos incêndios na região Norte do Brasil foram apagados ou controlados. No entanto, com o pico usual da temporada de incêndios previsto para setembro e outubro, há preocupações de que a situação possa piorar.
Dez estados brasileiros foram afetados, e as autoridades federais solicitaram aos governadores do Pará, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre que decretassem a proibição do uso de fogo, uma prática frequentemente empregada por agricultores para limpar terras. A união de pecuaristas em Tucumã, Pará, relatou que seus membros interromperam o uso desse método devido às condições extremamente secas.
A seca na Bacia Amazônica é a pior dos últimos 20 anos. Em julho, a Agência Nacional de Águas e Saneamento declarou uma situação crítica de escassez hídrica ao longo dos rios Madeira e Purus. Muitas regiões têm registrado precipitações anormalmente baixas desde o ano passado, quando os rios Solimões e Negro, que se encontram em Manaus, atingiram os níveis mais baixos desde o início dos registros há 122 anos.
Impacto na saúde e Amazônia
O impacto sobre as espécies não humanas é imensurável. No Lago Tefé, mais de 100 golfinhos de água doce ameaçados morreram em águas rasas e aquecidas a 39°C. Relatos indicam que plantas, fungos e insetos — essenciais para o ecossistema florestal — também estão sofrendo com as condições de seca incomuns.
Mais de um terço da floresta amazônica está lutando para se recuperar da seca, segundo um estudo recente que alerta para uma “diminuição crítica” deste ecossistema globalmente importante. Os sinais de enfraquecimento da resiliência levantam preocupações sobre o futuro da maior floresta tropical do mundo e o maior sumidouro de carbono terrestre, que pode estar se aproximando de um ponto sem retorno após quatro secas “uma vez em um século” em menos de 20 anos.
Matéria traduzida de The Guardian