Família denuncia estudantes de medicina por vídeo que expõe e ironiza jovem que passou por três transplantes de coração

A dor da perda se tornou ainda mais profunda para a família de Vitória Chaves da Silva, jovem de 26 anos que morreu em fevereiro após enfrentar uma rara e longa batalha contra uma cardiopatia congênita. Duas estudantes de medicina são acusadas de terem exposto e ironizado o histórico clínico da paciente em um vídeo no TikTok, gravado durante estágio no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.

No conteúdo, que já foi apagado das redes sociais, as alunas relatam, em tom de surpresa e deboche, que uma paciente havia passado por três transplantes de coração e um de rim. Em determinado trecho, atribuem a falha de um dos procedimentos à “falta de comprometimento da paciente” em tomar os medicamentos corretamente. O vídeo foi publicado nove dias antes da morte de Vitória, segundo relatou sua irmã ao portal G1.

“Foi um choque. Elas não conheciam minha irmã, nem acompanharam o caso. Mesmo assim, espalharam desinformação, e a internet começou a culpá-la pela própria condição”, disse Giovana Chaves, que afirmou ter recebido o vídeo de um amigo da família que mora na Holanda.

Vitória morreu por choque séptico e insuficiência renal crônica. A família contesta com veemência a afirmação feita pelas estudantes de que a rejeição ao segundo transplante teria sido causada pelo uso inadequado de medicamentos.

Segundo Giovana, a causa foi a chamada “doença do enxerto”, comum em transplantes, e confirmada por médicos que cuidaram de Vitória por mais de duas décadas.

As estudantes envolvidas — Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano — estavam no Incor durante um curso de extensão de curta duração. Em nota, a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) informou que ambas são alunas de outras instituições, sem vínculo acadêmico direto com a universidade ou com o hospital.

Após tomarem conhecimento do vídeo, os familiares registraram boletim de ocorrência e levaram o caso ao Ministério Público. Também procuraram o Incor, que afirmou repudiar qualquer desrespeito a pacientes e reforçou o compromisso com a ética e a dignidade humana.

O caso é investigado como injúria pelo 14º Distrito Policial de Pinheiros, na capital paulista. O Ministério Público confirmou que o processo foi encaminhado ao 4º Promotor de Justiça de Direitos Humanos, que ainda avalia os próximos passos.

A família exige uma retratação pública em vídeo.

“Queremos respeito. Queremos que elas digam a verdade e desmintam o que disseram. Foi um ataque desnecessário a alguém que já havia sofrido demais”, afirmou Giovana.

O episódio reacende o debate sobre ética médica, exposição de casos clínicos e o uso inadequado das redes sociais por estudantes da área da saúde. Para os familiares de Vitória, o respeito à memória da jovem é o mínimo diante da dor que ainda está longe de cicatrizar.