O Governo dos Estados Unidos produziu ao menos 819 documentos, totalizando 3.300 páginas, sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme revelou o jornalista e escritor Fernando Morais, biógrafo do líder brasileiro. Os registros, fornecidos pelo governo americano, cobrem um período de cinco décadas, desde 1966 até 2019, e foram solicitados por Morais por meio da Lei de Acesso à Informação americana (Freedom of Information Act).
Detalhes dos documentos e procedimentos
A maior parte dos documentos foi produzida pela CIA, somando 613 registros e 2.000 páginas. Os arquivos incluem informações sobre a relação de Lula com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), interações com autoridades do Oriente Médio e da China, além de planos militares brasileiros e a produção da Petrobras.
Morais ainda não teve acesso à íntegra dos documentos, que não incluem informações coletadas durante o atual mandato de Lula, iniciado em 2023. A solicitação foi feita com auxílio do escritório de advocacia Pogust Goodhead, que atua pro bono para o jornalista. O escritório é o mesmo que representa os atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana na Inglaterra e na Holanda.
Contexto histórico e expectativas
Os documentos foram obtidos a partir de pedidos a diversas agências americanas, como CIA, Departamento de Estado, Agência de Inteligência da Defesa, Departamento de Defesa, Exército Sul dos Estados Unidos e Comando Cibernético do Exército. Fernando Morais aguarda ainda respostas do FBI, NSA e FinCEN.
Morais planeja utilizar as informações na segunda parte da biografia de Lula, após não conseguir incluir os dados no primeiro volume devido a atrasos na liberação. Ele enfatiza a importância de jogar luz sobre a relação entre Brasil e EUA, destacando o papel central de Lula na política latino-americana.
Os registros históricos abrangem desde o envolvimento de Lula com o sindicalismo nos anos 60, passando pela fundação do PT e sua liderança em greves nos anos 70, até a ascensão à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Espionagem e Relações Bilaterais
Este monitoramento de Lula se insere em um contexto mais amplo de vigilância dos EUA sobre figuras políticas brasileiras. Em 2013, a TV Globo revelou que a então presidente Dilma Rousseff foi alvo de espionagem da NSA, com informações obtidas pelo jornalista Glenn Greenwald através do ex-técnico da agência Edward Snowden. Dois anos depois, o WikiLeaks divulgou mais documentos sobre a espionagem de Dilma e seus assessores.
A expectativa é que os novos documentos possam fornecer insights valiosos para a segunda parte da biografia de Lula, contribuindo para um entendimento mais aprofundado sobre a complexa relação entre os dois maiores países das Américas.