Escritório Inglês negociava acordo de US$ 3 bi no caso Mariana enquanto prometia bilhões a mais

A informação de que o escritório Pogust Goodhead negociava um acordo de cerca de US$ 3 bilhões com BHP e Vale no processo do caso Mariana, enquanto prometia compensações muito maiores às vítimas, lança dúvidas sobre a condução da ação coletiva bilionária. Segundo o Financial Times, a proposta teria sido discutida em uma reunião realizada em junho, em Nova York, reunindo representantes do escritório britânico, do fundo Gramercy (que financia a ação) e das mineradoras.

A proposta envolvia US$ 800 milhões em compensações diretas às vítimas da tragédia de Mariana, mais US$ 600 milhões destinados aos custos legais do processo, totalizando cerca de US$ 1,4 bilhão. Embora o escritório tenha supostamente resistido à proposta.

Segundo o Financial Times, o escritório estava negociando discretamente um possível acordo de cerca de US$ 3 bilhões com a mineradora. O número contrasta de forma gritante com os discursos anteriores do próprio Goodhead, que em fevereiro ainda dizia aos clientes brasileiros que a empresa “devia dezenas de bilhões de dólares”.

Na ocasião, o CEO afirmava que o cálculo do grupo jurídico indicava um rombo muito maior:

“Nossa análise indica que eles ainda devem dezenas de bilhões”, disse ele ao Valor International.

Agora, com sua saída repentina, o cenário muda.

A equipe que assumiu interinamente o comando do escritório afirma que o processo segue normalmente e que os financiadores da causa continuam comprometidos. Ainda assim, fontes próximas à negociação revelam que a proposta real estava muito aquém das expectativas criadas junto aos mais de 600 mil atingidos pela tragédia do rompimento da barragem de Mariana.

Nos bastidores, o afastamento de Goodhead, anunciado por meio de memorando interno e atribuído oficialmente a um “período de licença”, teria ligação direta com divergências entre o escritório e o fundo de investimentos Gramercy, que financia a ação e já aportou mais de 450 milhões de libras no caso.

A ação coletiva contra BHP e Vale é considerada a maior já movida na justiça do Reino Unido, com cerca de 640 mil vítimas buscando reparação por danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.

O julgamento já foi concluído e a sentença é aguardada para as próximas semanas. Caso a responsabilidade da BHP seja confirmada, um novo julgamento será realizado em outubro de 2026 para definir o valor exato das indenizações. Vale e BHP, por sua vez, argumentam que a ação no Reino Unido não é mais necessária, uma vez que firmaram um acordo com autoridades brasileiras em 2023, que prevê um pagamento total de cerca de US$ 30 bilhões ao longo de 20 anos.