A World, projeto que remunera brasileiros com criptomoedas em troca do escaneamento da íris, anunciou a suspensão voluntária de novos registros no país. A decisão foi tomada após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinar a suspensão imediata dos pagamentos, alegando que a prática interfere na livre manifestação de vontade dos titulares de dados.
Em janeiro, a ANPD já havia ordenado a interrupção do pagamento pela coleta de dados biométricos, mas a World recorreu com um efeito suspensivo que permitiu a continuidade das remunerações. No entanto, o recurso foi negado nesta terça-feira, 11, e a suspensão dos pagamentos foi publicada no Diário Oficial da União. Segundo a relatora do caso, Miriam Wimmer, a compensação financeira oferecida pela World configura “interferência indevida” na autonomia dos participantes.
Em nota enviada ao g1, a World informou que, apesar da pausa nos registros, suas lojas físicas permanecerão abertas para fornecer informações ao público. A empresa também afirmou que precisará de tempo para implementar as mudanças exigidas pela ANPD.
O projeto está em operação no Brasil desde novembro de 2024, com 55 pontos de atendimento em São Paulo. Entre janeiro e fevereiro de 2025, o g1 visitou diversas unidades da World e constatou que muitas estavam vazias. Lojistas próximos e funcionários relataram uma queda significativa no movimento desde dezembro de 2024, período em que o projeto ainda atraía grande fluxo de pessoas.
Funcionários atribuíram a diminuição do público ao receio gerado pelas recentes polêmicas envolvendo a coleta de dados biométricos e às notícias sobre a investigação da ANPD. Além disso, acredita-se que o interesse tenha sido maior no final do ano devido à necessidade de dinheiro extra para as festas de fim de ano.
Recursos negados e impacto legal
No final de janeiro, a World havia solicitado um prazo de 45 dias para realizar alterações em seu aplicativo antes de interromper os pagamentos. No entanto, o pedido foi negado pela ANPD. O órgão também exigiu que a Tools for Humanity, empresa responsável pela operação da World no Brasil, nomeasse um encarregado pelo tratamento de dados pessoais, conforme determina a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Para Rafael Zanatta, diretor da Data Privacy Brasil, o caso é um marco importante na discussão sobre a proteção de dados e a desigualdade no acesso à tecnologia.
“Pessoas que estão cedendo dados biométricos por dinheiro, mesmo que em criptomoeda, não estão exercendo consentimento livre”, afirmou Zanatta.
Ele acrescentou que a decisão da ANPD está alinhada ao espírito da LGPD, que visa proteger os direitos dos cidadãos e garantir a segurança no uso de dados pessoais.
O que é a World?
A World é administrada pela World Foundation, uma organização sem fins lucrativos fundada por Alex Blania e Sam Altman, CEO da OpenAI. A iniciativa foi criada pela Tools for Humanity e utiliza o aplicativo World App e câmeras especiais, chamadas de Orbs, para capturar a íris dos participantes.
Desde seu lançamento, o projeto já arrecadou US$ 115 milhões (cerca de R$ 680 milhões) em rodadas de investimento. Mais de 400 mil brasileiros haviam se cadastrado até janeiro de 2025, recebendo cerca de R$ 600 em criptomoedas pela participação.
Posicionamento da World
Em comunicado oficial, a World afirmou:
“Respeitamos a decisão da ANPD e estamos comprometidos em cumprir com as leis dos mercados onde operamos. Para garantir conformidade com as exigências, estamos pausando temporariamente o serviço de verificações. Nossos espaços físicos permanecerão abertos para fornecer informações ao público. Pedimos desculpas por qualquer inconveniente aos que desejavam se juntar à World agora.”
A empresa também destacou que continuará trabalhando para garantir transparência e entendimento público sobre o serviço, que, segundo eles, busca aumentar a segurança e confiança online na era da inteligência artificial.