Entregadores de aplicativo fazem paralisação nacional por melhores condições e reajuste nas tarifas

Entregadores de aplicativo iniciaram nesta segunda-feira, 31, uma paralisação nacional de dois dias. A categoria cobra melhores condições de trabalho e aumento na remuneração. O movimento começou com atos em Alphaville, na região de Barueri (SP), e deve ocorrer em diversas cidades do país.

Entre as principais demandas estão: uma taxa mínima de R$ 10 por entrega, o aumento do valor por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50, a limitação do raio para bicicletas a três quilômetros e o pagamento integral em pedidos agrupados.

O presidente do SindimotoSP, Gil Almeida dos Santos, afirma que cerca de 1,8 milhão de trabalhadores estão envolvidos na mobilização em todo o Brasil. Em São Paulo, o número estimado chega a 800 mil. Segundo ele, algumas plataformas estariam oferecendo bônus para desestimular a participação na greve.

O iFood, uma das principais empresas do setor, declarou que não identificou impacto nas operações até o momento. A empresa afirmou ainda que estuda novos reajustes para 2025. Destacou que o valor mínimo das rotas passou de R$ 5,31 para R$ 6,50 nos últimos três anos.

Sobre o raio de atuação das bicicletas, o iFood disse que já houve uma redução em janeiro. A empresa alega que limitar ainda mais essa distância pode diminuir a oferta de entregas e afetar a renda dos ciclistas.

A Amobitec, associação que representa empresas como iFood, Uber e 99, afirmou que respeita o direito de manifestação e que mantém diálogo aberto com os trabalhadores. A entidade destacou que, segundo estudo do Cebrap, a renda média por hora dos entregadores cresceu 5% acima da inflação entre 2023 e 2024, chegando a R$ 31,33.

O Rappi também reconheceu o direito à manifestação pacífica. A empresa disse ter feito ajustes nas tarifas por conta da alta dos combustíveis. Acrescentou que oferece suporte presencial e digital, capacitação, seguro e botão de emergência para entregadores cadastrados.

A paralisação reacende o debate sobre a regulamentação do trabalho por aplicativos. Um projeto de lei complementar, já em tramitação no Congresso, propõe regras para motoristas de transporte individual. No entanto, os entregadores de delivery ainda estão fora da proposta.

Para o advogado Hugo Fonseca, a greve é um reflexo da falta de garantias trabalhistas. Ele afirma que as plataformas promovem um discurso de empreendedorismo, mas mantêm uma relação desigual com os entregadores.

“O movimento mostra que esses trabalhadores sabem que fazem parte de uma estrutura de controle. A mobilização fortalece o sindicalismo e a luta por direitos básicos”, declarou.

O Supremo Tribunal Federal ainda deve julgar ações sobre a legalidade da relação entre entregadores e aplicativos. Até lá, o impasse sobre vínculo, proteção e remuneração continua sem uma solução definitiva.

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