Myriam Marques, uma enfermeira brasileira, desempenhou um papel crucial na implementação de um serviço de aborto medicamentoso na Universidade Columbia, em Nova York. Este é um dos primeiros serviços desse tipo em uma universidade privada nos Estados Unidos, inaugurado em março deste ano. O serviço já estava disponível em universidades públicas do estado desde maio de 2023.
Iniciativa Progressista em Nova York
Aos 60 anos, Myriam Marques, gerente-assistente de enfermagem no ambulatório estudantil da Universidade Columbia, ajudou a montar e agora supervisiona a equipe de quatro enfermeiros que realizam os procedimentos.
“Nova York é um estado muito progressista. Mais enfermeiras queriam participar do que precisávamos”, afirma Marques, destacando a aceitação e o interesse dos profissionais de saúde.
O serviço de aborto por pílula é gratuito e disponível para alunos e parceiros listados como dependentes que pagam uma taxa de serviços de saúde e possuem o plano da instituição. O processo começa com uma triagem por telefone e um aconselhamento, e, se a decisão for pelo aborto, o procedimento é agendado. Duas pílulas são administradas: a mifepristona, que inibe a ação da progesterona, e o misoprostol, que induz contrações uterinas.
Experiência e Ativismo de Myriam Marques
Marques, graduada e mestre em enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), começou sua carreira no sistema de saúde público brasileiro. Nos anos 1980, ela e suas colegas notaram uma redução nos casos graves após abortos ilegais, devido ao uso clandestino do Cytotec, um medicamento inicialmente destinado ao tratamento de úlceras, mas que foi descoberto como abortivo.
Durante sua carreira no Brasil, Marques presenciou as trágicas consequências dos abortos ilegais, especialmente entre mulheres pobres e de minorias.
“Eu vi muitas mortes horríveis, situações muito tristes. Na minha experiência, as mulheres que morrem de aborto são as pobres, as pretas, as trabalhadoras, as que já têm filhos”, relata.
Há quatro anos na Universidade Columbia, Myriam Marques também atua na organização Defend Democracy in Brazil, nos EUA, e na Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e na Articulação de Mulheres Brasileiras, no Brasil. Para ela, o aborto deve ser tratado como um procedimento de saúde da mulher, resolvido na privacidade do consultório. “Isso é algo resolvido entre a mulher e a médica. Acabou o assunto. Não tem nada de mais”, conclui.
A Universidade Columbia não quis se pronunciar sobre o serviço de aborto implementado.