Após recentes desavenças entre o presidente brasileiro Lula (PT) e o argentino Javier Milei, o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, foi chamado a Brasília. A reunião com Lula e o chanceler Mauro Vieira tem como foco discutir os próximos passos nas relações entre os dois países.
Este encontro não deve ser interpretado como uma “chamada para consultas”, uma ação diplomática que indica um esfriamento nas relações. Bitelli, que está na embaixada em Buenos Aires há um ano, está encarregado de delinear novas estratégias em áreas importantes como energia e comércio. Ele se encontrou com o chanceler Mauro Vieira na última segunda-feira, 15.
As relações atuais entre Brasil e Argentina, um parceiro comercial estratégico, são consideradas complicadas e diferentes do habitual. As trocas de farpas entre Milei e Lula têm impactado a diplomacia, mas ambas as partes tentam minimizar a situação.
Os conflitos começaram quando Lula solicitou desculpas de Milei por comentários ofensivos, o que o argentino se negou a fazer, chamando Lula de “esquerdinha” e “ego inflado”. Antes de assumir a presidência, Milei já havia rotulado Lula de “comunista” e “corrupto”.
Tensão e atrito
A tensão aumentou na semana passada, quando Milei participou de um evento conservador em Santa Catarina, enquanto a cúpula do Mercosul ocorria em Assunção, no Paraguai, onde ele não estava presente. A expectativa de que Milei pudesse desrespeitar Lula durante sua visita ao Brasil não se concretizou, pois o argentino abordou o “socialismo do século 21” sem citar o nome do brasileiro.
Enquanto isso, a equipe de Milei em Assunção, liderada pela chanceler Diana Mondino, procurou implementar uma agenda ultraconservadora que encontrou resistência do Brasil. Essa discordância resultou na falta de uma declaração final do Mercosul, prática comum em cúpulas, devido à ausência de consenso.
Em Brasília, a mensagem é que essas divergências não devem afetar a relação bilateral. Lula, no entanto, aproveitou a ocasião para criticar as ações argentinas, embora não tenha nomeado diretamente o país ou seu líder.
Em Buenos Aires, a percepção é de que Mondino, que tem uma boa relação com o Brasil, está perdendo espaço em seu ministério, enquanto a irmã de Milei, Karina, ganha influência.
Bitelli não representará o Brasil em um evento que marcará os 30 anos do atentado à AMIA, uma associação judaica que sofreu um ataque a bomba em 1994, que deixou 85 mortos. Lula não foi convidado para o evento, que contará com a presença de líderes de outros países do Mercosul.
Além das tensões com Milei, a postura de Lula em relação ao conflito em Gaza tem gerado descontentamento entre organizações judaicas, especialmente por suas críticas a Israel. Na ausência de Bitelli, o encarregado de negócios da embaixada em Buenos Aires, Mauricio Favero, será responsável pela representação do Brasil no evento.