Elementos de Terras Raras em alta: eles impulsionarão o próximo boom da mineração na América Latina?

As chaminés fumegantes das siderúrgicas em declínio e as tochas incandescentes de uma refinaria de petróleo marcam a paisagem industrial envelhecida ao redor de Concepción, no sul do Chile. Recentemente, uma histórica fábrica de cerâmica fechou suas portas aqui.

No entanto, as sementes de um potencial renascimento estão logo abaixo das colinas arborizadas que cercam esta cidade voltada para o Pacífico. Aqui, um empreendimento de mineração chamado Penco, liderado pela Aclara Resources, listada em Toronto, propõe a extração de terras raras, elementos únicos necessários para fabricar os ímãs usados em tudo, desde motores de carros elétricos e turbinas eólicas até caças F-35 fabricados pela Lockheed Martin e máquinas de ressonância magnética.

O projeto Penco, de US$ 130 milhões, oferece uma potencial “vitória rápida para o Ocidente”, que necessita de minerais críticos extraídos de forma sustentável e provenientes de jurisdições amigáveis, afirmou o CEO da Aclara, Ramón Barúa Costa. A empresa e sua parceira chilena, a siderúrgica CAP, reapresentaram um pedido de licença ambiental, esperando que as autoridades chilenas o aprovem rapidamente após uma submissão inicial ter enfrentado problemas, para iniciar a operação do primeiro módulo do projeto até 2028.

Uma tendência regional

O Penco faz parte de uma tendência regional crescente, não apenas no Chile, mas mais proeminentemente no Brasil, para quebrar o controle quase total que a China mantém sobre as terras raras. À medida que os EUA buscam desvincular a manufatura do gigante asiático e a indústria global se volta para a produção de novos produtos mais verdes, como veículos elétricos, estabelecer cadeias de suprimentos confiáveis para terras raras no Ocidente se torna uma prioridade estratégica.

Os mineradores afirmam que as argilas iônicas e as rochas de monazita em partes do Chile e do Brasil possuem a combinação ideal de terras raras para fabricar ímãs. Enquanto a China é criticada por suas práticas ambientais na mineração de terras raras em casa e em Mianmar, os novos empreendimentos latino-americanos prometem explorar terras raras de maneira sustentável.

Fabricantes de automóveis, desde a General Motors até a Toyota, e novos fabricantes de ímãs têm explorado Chile e Brasil em busca de alternativas de suprimento fora da China. Particularmente atraentes são as terras raras pesadas da América do Sul, como disprósio e térbio, menos abundantes que as terras raras leves encontradas nos EUA e na Austrália.

“Os fabricantes de automóveis costumavam apertar nossas mãos e dizer adeus. Agora eles querem ouvir mais,” disse um executivo de mineração sul-americano, que preferiu permanecer anônimo devido a preocupações comerciais sensíveis.

Crescente apetite

Os dados mostram o porquê. Entre 2015 e 2023, o apetite global por terras raras usadas em ímãs quase dobrou para 93.000 toneladas e deve aumentar mais de 80% para 169.000 toneladas em 2040, impulsionado principalmente por motores de veículos elétricos, de acordo com o cenário de promessas climáticas anunciadas pela Agência Internacional de Energia (AIE).

A AIE afirma que o mundo enfrenta menos risco de déficit de fornecimento de terras raras do que de metais para baterias como cobre e lítio, que também abundam na América Latina. No entanto, as terras raras estão sujeitas a um “nível extremamente importante de concentração geográfica” de projetos de mineração e refino atuais e futuros “que expõem significativamente este mercado a interrupções de fornecimento”.

Esses fundamentos, no entanto, não estão refletidos nos preços atuais das terras raras. Especialistas dizem que, para manter seu domínio sobre 70% da produção mundial e 90% do processamento, Pequim mantém os preços artificialmente baixos, insuficientes para que fornecedores alternativos obtenham lucro.

“Nesses níveis de preços atuais,” disse Brian Menell, CEO da empresa de investimentos em metais tecnológicos TechMet, baseada em Dublin, “a maioria dos produtores ocidentais, e provavelmente alguns produtores chineses, estão operando com prejuízo.”

Terras Raras no Brasil

Embora o governo brasileiro tenha sido favorável, as operações no país começaram com dificuldades. Em Goiás, o primeiro empreendimento da Serra Verde Group, controlado por capital privado dos EUA, não atingiu as expectativas. Os problemas da empresa afetam seu comprador chinês, mas podem prejudicar mais os concorrentes ao minar a confiança dos investidores.

A Serra Verde é cautelosa sobre seu status operacional:

“Apesar do sucesso inicial da Serra Verde, ainda é um setor nascente que requer apoio contínuo para se estabelecer em um mercado altamente competitivo,” disse o CEO Thras Moraitis por e-mail.

Indiferente, a Neo Performance Materials, com sede em Toronto, planeja comprar 3.000 toneladas métricas por ano de óxido de terras raras do projeto Caldeira da Meteoric Resources, com sede em West Perth, na Austrália, em Minas Gerais. As terras raras abastecerão uma fábrica de ímãs que a Neo está desenvolvendo na Estônia.

No vizinho estado da Bahia, a produtora de urânio Energy Fuels, com sede em Lakewood, Colorado, planeja escavar terras raras em 2026. A mina no Brasil, junto com projetos na Austrália e Madagascar, abastecerá a usina White Mesa em Utah, onde a empresa pode monetizar os materiais radioativos que acompanham as terras raras. “Enquanto o urânio é um problema para todos os outros, é um valor agregado para nós,” disse o vice-presidente sênior Curtis Moore. “Podemos recuperá-lo e vendê-lo para a indústria nuclear.”

Em outras partes do Brasil, a Aclara planeja replicar seu projeto chileno no estado de Goiás. Outros aspirantes incluem Appia, Viridis e Brazilian Rare Earths.

A perspectiva dos EUA

A fabricação de ímãs nos EUA não prosperou principalmente porque a China protege seu know-how tecnológico e os preços das matérias-primas caíram. Desde outubro, os preços do óxido de disprósio chinês caíram 25%, para pouco mais de US$ 300/kg, segundo a agência de preços Fastmarkets, com sede em Londres.

Mas, com um olho na segurança de fornecimento, os governos ocidentais estão intervindo. A administração Biden está impondo mais tarifas sobre produtos de alta tecnologia chineses, incluindo uma taxa de 25% sobre ímãs em 2026.

O Pentágono concedeu US$ 430 milhões a fabricantes de ímãs como MP Materials, Lynas e VAC. Também está explorando a precificação de commodities críticas baseada em IA enquanto busca estabelecer uma cadeia de suprimentos doméstica de mina a ímã para atender todas as suas necessidades de defesa até 2027. O braço de investimentos no exterior dos EUA, DFC, abriu um escritório em São Paulo, definindo sua missão para “aumentar seu portfólio de investimentos em recursos minerais chave”, como já fez com o níquel.

Para a América Latina, as terras raras oferecem a chance de diversificar e revitalizar as economias de forma mais verde. A região também pode atender suas ambições industriais ao separar e processar terras raras em metais e ligas. Agora cabe aos fabricantes, governos e investidores ocidentais considerar a proposta de valor subjacente a este recurso estratégico.

Texto traduzido de Americas Quarterly