“Dormimos no chão para não sermos reprovados”: estudantes de Medicina denunciam abusos e plantões exaustivos na Unoeste Guarujá

A rotina de estudantes de Medicina no campus Guarujá da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) virou motivo de denúncia. Segundo relatos obtidos pelo g1, os alunos enfrentam plantões exaustivos, jornadas abusivas e dormem no chão durante o internato no Hospital Santo Amaro, parceiro da instituição. As acusações envolvem más condições de trabalho, repressão e até falsificação de assinaturas.

A universidade, por sua vez, nega as denúncias e afirma que preza pela qualidade do curso e o bem-estar dos estudantes.

Plantões de 24h e ameaças de reprovação

Dois estudantes, que preferiram não se identificar, relataram que são obrigados a cumprir jornadas de até 24 horas, sem descanso adequado ou estrutura básica. Segundo eles, a ausência de pausas para dormir ou almoçar pode resultar em reprovação automática na disciplina.

“Dormimos no chão do hospital. Não havia lugar para descansar. Revezávamos entre nós para descansar por alguns minutos durante a madrugada”, contou um dos alunos. O estudante disse ainda que a coordenação ignora os apelos dos alunos.

“Não há diálogo. Mudam regras no meio do curso, e quem questiona é punido.”

A denúncia se soma ao caso de Roberto Fakhoure, estudante de 43 anos que acusou a Unoeste de falsificar sua assinatura em uma ata para impedir que ele recorresse de uma reprovação. A perícia contratada por Fakhoure comprovou a falsificação. Ele registrou um boletim de ocorrência e deve levar o caso à Justiça.

Segundo seu advogado, a reitoria teria se antecipado para evitar que o aluno denunciasse as condições do internato ao campus principal da universidade no interior paulista.

Outro estudante afirmou que os orientadores chegam a repreender alunos até pelos horários de almoço. “Somos pressionados o tempo todo. O recado é claro: descanse e será punido.”

Unoeste e hospital negam as acusações

Em nota, a Unoeste afirmou que o curso de Medicina no Guarujá possui nota máxima no MEC e que os internatos ocorrem em hospitais de referência. “Prezamos pelo bem-estar dos estudantes”, disse a instituição.

O Hospital Santo Amaro, também em nota, declarou que mantém diálogo aberto com a universidade e está comprometido em oferecer boas condições de trabalho e descanso aos estudantes.

Ainda assim, os alunos denunciam que o clima dentro do hospital é de medo e repressão. Segundo eles, qualquer questionamento pode levar a represálias.

“Usam o caso do Roberto para nos mostrar o que acontece com quem fala demais”, afirmou um dos jovens.