O dólar atingiu R$ 6,1156 na manhã desta sexta-feira (29), marcando um novo recorde histórico e refletindo a apreensão do mercado com o pacote de cortes de gastos anunciado pelo governo e os dados positivos de emprego. A moeda americana, que fechou o pregão anterior a R$ 5,9891, já acumula alta de 23,42% no ano.
Simultaneamente, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, registrou alta de 0,20%, aos 124.860 pontos, após ter caído 2,40% no dia anterior — sua maior queda diária em quase dois anos.
Cenário econômico
O mercado financeiro reagiu ao pacote fiscal detalhado na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Entre as medidas previstas estão cortes de R$ 70 bilhões em 2025 e 2026, somando R$ 327 bilhões até 2030. O plano inclui ajustes no salário-mínimo, abono salarial e aposentadoria de militares, além de restrições a emendas parlamentares.
No entanto, o anúncio simultâneo de uma proposta para isentar do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil por mês gerou incertezas. A medida, uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve custar R$ 35 bilhões ao governo. Para compensar, o governo propôs taxar rendimentos acima de R$ 50 mil mensais com uma alíquota de até 10%.
Especialistas avaliam que, apesar da direção positiva dos cortes, a isenção do IR aumenta os riscos fiscais. “A proposta traz um risco relevante, especialmente em relação à sua tramitação no Congresso. Muitas vezes, projetos de lei saem sem as compensações planejadas, o que pode agravar o quadro fiscal”, comentou Bruno Funchal, presidente do Bradesco Asset.
Além do cenário fiscal, o mercado também analisou os dados de emprego divulgados pelo IBGE. A taxa de desemprego caiu para 6,2% no trimestre encerrado em outubro, o menor patamar histórico da série da PNAD Contínua.
Embora o dado positivo possa impulsionar o consumo e o crescimento econômico, a combinação com pressões inflacionárias e desafios fiscais reforça a cautela dos investidores.
Impacto do dólar nos mercados
O dólar, que acumula alta de 3,02% na semana e 3,59% no mês, reflete a busca por segurança diante das incertezas fiscais. Já o Ibovespa inverteu o sinal negativo após a abertura, mas permanece volátil devido à percepção de risco fiscal e à incerteza sobre a capacidade do governo de implementar as medidas anunciadas.
Analistas destacam que o sucesso do pacote fiscal dependerá de sua tramitação no Congresso e da confiança do mercado na capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. O arcabouço fiscal continua sendo um ponto central para atrair investimentos e estabilizar a economia brasileira.
O último pregão de novembro encerra um mês marcado pela volatilidade e por dúvidas sobre o futuro econômico do país, com os mercados atentos aos desdobramentos das medidas e à evolução do cenário global.