A cotação do dólar subiu com força nesta quinta-feira, 10, e chegou a bater R$ 5,62 após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida entra em vigor no dia 1º de agosto e gerou forte repercussão no mercado financeiro. O Ibovespa também sentiu o impacto e opera em queda.
Mercado reage à tarifa e clima político agrava tensão
Por volta das 14h45, o dólar avançava 1,02%, sendo negociado a R$ 5,5591. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,6213. Essa alta se soma ao ganho de 1,06% registrado na véspera. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuava 0,51%, aos 136.785 pontos.
Entre os papéis mais penalizados estavam os da Embraer, que caíam mais de 3%. A fabricante é uma das empresas mais expostas ao mercado norte-americano, com quase 24% da receita vinda de exportações para os EUA.
A decisão de Trump veio acompanhada de críticas ao Supremo Tribunal Federal e uma menção direta a Jair Bolsonaro. O tom político da medida acendeu alertas entre analistas. Para o economista Paul Krugman, vencedor do Nobel, a postura se encaixa em uma longa tradição dos Estados Unidos de usarem tarifas com objetivos políticos.
O presidente Lula respondeu afirmando que o Brasil reagirá com base na Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada justamente para lidar com esse tipo de medida. Essa lei autoriza o país a impor tarifas a nações que tomem ações semelhantes contra seus produtos.
Contudo, Trump alertou que, se o Brasil retaliar, novas taxas poderão ser aplicadas. Ao mesmo tempo, ele sugeriu que as tarifas poderiam ser reduzidas, caso o país elimine suas próprias barreiras comerciais. Outra opção oferecida seria a instalação de fábricas brasileiras nos Estados Unidos.
Além do Brasil, outras 21 nações também receberam notificações de tarifas desde segunda-feira. Segundo o governo americano, o objetivo é conter déficits comerciais considerados “insustentáveis” e proteger a economia nacional.
Inflação brasileira pressiona cenário interno
A instabilidade externa coincidiu com dados domésticos preocupantes. O IPCA de junho apontou alta de 0,24%, acumulando inflação de 5,35% em 12 meses — bem acima da meta de 4,5% estipulada pelo Banco Central. Com isso, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, deverá enviar nova carta ao ministro Fernando Haddad explicando o descumprimento da meta.
O temor agora é de que a tarifa norte-americana eleve os preços de produtos brasileiros exportados, afetando diretamente setores como petróleo, carne bovina, café, aço e alumínio. Empresas como Suzano, Tupy, Jalles Machado e Frasle também estão na lista das mais vulneráveis à medida.
Esse cenário tende a pressionar os custos de produção, impactar os preços ao consumidor e reacender o risco inflacionário. Por conseguinte, cresce a expectativa de que o Federal Reserve mantenha os juros altos nos EUA por mais tempo, o que fortalece ainda mais o dólar e afeta economias emergentes como o Brasil.