Você já teve tanta dificuldade para sair da cama que se perguntou se isso tem nome? Ou riu assistindo a um filme de terror tão absurdo que beirava o cômico? Se sim, pode estar entre os brasileiros que já usam “disania” e “terrir”, termos ainda não reconhecidos oficialmente, mas cada vez mais frequentes na fala e na escrita. Agora, esses e outros vocábulos aguardam avaliação da Academia Brasileira de Letras (ABL) para possível inclusão no português formal.
Palavras ganham força no uso cotidiano do português, mas precisam de critérios para serem oficializadas
Atualmente, oito palavras estão em análise no Observatório Lexical da ABL. Além das já citadas, a lista inclui “pejotização”, referência à prática de contratar profissionais como pessoa jurídica, “cordonel”, “microssono”, “reclínio”, “retrofitagem” e “tokenização”. Os termos ainda não constam no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), mas ganharam visibilidade por aparecerem com frequência em textos técnicos, jornalísticos e jurídicos.
No entanto, como explicam os linguistas ouvidos pelo g1, nem toda palavra em circulação entra automaticamente para o vocabulário oficial. Modismos passageiros, como o “inshalá” popularizado pela novela O Clone em 2002, perdem força com o tempo e raramente se firmam. A ABL só inclui vocábulos que apresentem uso constante, em diferentes contextos, e grafia estabilizada.
Por esse motivo, “pejotização” é vista com mais simpatia entre os especialistas. O termo já aparece em sentenças judiciais e publicações acadêmicas. “Terrir”, por outro lado, ainda é associado a nichos culturais. A estabilidade e a disseminação são fatores decisivos. Como disse Ricardo Cavalieri, da ABL, “quem cria a palavra é o falante; o Volp apenas registra”.
A evolução do vocabulário acompanha mudanças sociais, culturais e tecnológicas. Foi assim com termos como “telemedicina”, “covid-19” e “sororidade”, todos já incorporados ao Volp. Embora não haja prazo para a inclusão, a tendência é clara: a língua portuguesa continua em expansão, e o cotidiano digital acelera esse processo.