Déficit do INSS deve quadruplicar em 75 anos com envelhecimento da população, aponta governo

Com uma população que envelhece rapidamente e menos jovens para contribuir, o governo brasileiro projeta um cenário alarmante: o rombo no INSS pode quadruplicar até 2100, saltando de 2,58% para 11,59% do PIB. A estimativa está na proposta da LDO de 2026 e reacende o debate sobre uma nova reforma da Previdência ainda nesta década.

A projeção feita pelo governo federal no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 mostra que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode enfrentar um rombo insustentável nos próximos anos. O déficit, que deve fechar 2025 em R$ 328 bilhões, poderá ultrapassar R$ 30 trilhões em 2100 — o equivalente a 11,59% do Produto Interno Bruto (PIB).

A razão principal é demográfica: o Brasil está envelhecendo rapidamente e a taxa de natalidade segue em queda. Até 2060, mais de 32% da população será idosa, enquanto a fatia economicamente ativa cairá para 52%. Esse descompasso ameaça o modelo atual do sistema de repartição, onde os trabalhadores da ativa financiam os benefícios dos aposentados.

A última reforma, feita em 2019, fixou idade mínima para aposentadoria e alterou o cálculo dos benefícios. Mesmo assim, analistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Tribunal de Contas da União (TCU) afirmam que ela não será suficiente para conter o avanço do déficit no longo prazo.

Segundo Rogério Nagamine, do IPEA, uma nova reforma idealmente deveria ser realizada já em 2027. Ele defende ajustes como aumento da idade mínima na aposentadoria rural, revisão das regras do MEI e a criação de um mecanismo de ajuste automático, que acompanhe a expectativa de vida.

O economista Arnaldo Lima, da Polo Capital, destaca que o problema vai além do INSS. A Previdência como um todo, somando servidores públicos civis e militares, consome 14,5% do PIB — valor comparável ao de países com população idosa três vezes maior, como França e Portugal.

Lima defende a aprovação da PEC 66/2023, que estende regras previdenciárias federais a estados e municípios, além da regulamentação de seguros complementares para doenças, invalidez e morte — que representam 35% do gasto total com previdência.

Outro ponto crítico é a judicialização: mais de 90% das concessões em áreas como aposentadoria especial e auxílio-acidente ocorrem via ações judiciais, gerando um custo de R$ 27 bilhões anuais com precatórios.

Enquanto isso, o número de contribuintes não cresce no mesmo ritmo que a demanda por aposentadorias. O próprio governo admite, na proposta da LDO, que a pressão sobre os cofres públicos tende a se intensificar rapidamente — e que ajustes profundos nas políticas previdenciárias serão inevitáveis.