O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, fez uma declaração na terça-feira afirmando que seu irmão e ex-chefe do exército, Humberto Ortega, que, segundo oponentes exilados, estava em prisão domiciliar, cometeu um ato de “traição à pátria” ao condecorar um oficial militar dos EUA em 1992. Ortega se referiu a Humberto Ortega como “o chefe do exército na época”, sem nomeá-lo, e descreveu a decoração como um “ato de rendição” e “vergonha nacional”.
O governo de Ortega tem tomado medidas duras contra críticos e opositores, com mais de 300 pessoas exiladas e acusadas de traição. A recente instalação de uma unidade médica na casa de Humberto Ortega foi interpretada por oponentes exilados como prisão domiciliar. A declaração de Ortega ocorre em meio a uma crescente tensão política no país, com a reforma constitucional aprovada em fevereiro de 2023 estabelecendo que pessoas condenadas por crimes de “traição à pátria” perderão sua nacionalidade.
“Ele entregou sua alma ao diabo”
O General aposentado Humberto Ortega, chefe do Exército de 1979 a 1995, impôs em 1992 ao adido militar dos Estados Unidos, Dennis Quinn, a medalha “Camilo Ortega”, nomeada em homenagem ao irmão mais novo que morreu na luta contra o ditador Anastasio Somoza em 1978.
Segundo o presidente Ortega, “o chefe do exército na época cometeu o sacrilégio de entregar-lhe essa ordem”, que segundo relatos da época foi feita em reconhecimento a uma relação de respeito.
“O chefe do exército já havia entregado sua alma ao diabo” nos anos 90, acrescentou, quando anulou a decoração por meio de um decreto lido no evento em Manágua.
Ambos os irmãos Ortega se distanciaram por diferenças políticas desde os anos 90.
– A polêmica entrevista –
Em uma entrevista ao portal Infobae, publicada em 19 de maio, o general Ortega previu que o ambiente de seu irmão não será capaz de se manter no poder quando ele morrer.
“Sem Daniel, vejo muito difícil que haja cerca de dois ou três para se unirem. Muito menos um em particular, e mais difícil na família. Crianças que não tiveram a luta política acumulada. Nem Somoza foi capaz de estabelecer seu filho”, disse o ex-chefe militar.
Segundo a imprensa no exílio, após a publicação da entrevista, a polícia visitou a casa do general, ao sul de Manágua, e confiscou seus telefones celulares e computadores. O governo não se pronunciou sobre essas versões.
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Os dois irmãos fizeram parte das guerrilhas sandinistas que lutaram contra a ditadura de Anastasio Somoza, o último líder de uma dinastia que governou o país com mão de ferro por quatro décadas.
Após o triunfo da revolução em 1979, Humberto Ortega tornou-se chefe do Exército Popular Sandinista enquanto Daniel assumiu as rédeas do governo, primeiro sob um conselho governante e depois pessoalmente.
Humberto continuou liderando a instituição armada – que mudou seu nome para Exército Nicaraguense – até 1995, após a derrota eleitoral de Daniel em 1990 para a oposição Violeta Barrios de Chamorro, que governou por quase sete anos.
Daniel Ortega voltou ao poder em 2007 e tem sido sucessivamente reeleito em eleições questionadas pela comunidade internacional. Sua esposa é a poderosa vice-presidente Rosario Murillo.