O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira, 9, de uma reunião crucial do Mercosul em Assunção, Paraguai. Defendendo a integração latino-americana e a preservação da democracia, Lula destacou a importância da união regional em meio a um cenário de crescentes tensões políticas. A entrada da Bolívia como membro pleno do bloco foi um dos principais pontos da cúpula.
Ausência de Milei e Recados para a Venezuela
A Argentina foi representada pela chanceler Diana Mondino, pois o presidente Javier Milei não compareceu, alegando problemas de agenda. No entanto, Milei passou o fim de semana em Santa Catarina, participando de um fórum conservador com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula criticou indiretamente a ausência de Milei, chamando-a de “uma bobagem imensa” e destacando a importância de estar presente em encontros desse tipo.
Os representantes de alto nível dos países associados ao Mercosul, incluindo Bolívia, Colômbia, Peru e Equador, também participaram do evento. A Venezuela, membro pleno do Mercosul, permanece suspensa desde 2016 por ruptura dos princípios democráticos. Durante a cúpula, foi feita uma declaração conjunta pedindo que as eleições presidenciais na Venezuela, marcadas para o próximo dia 28, sejam livres e transparentes.
Novos Acordos e Desafios Diplomáticos
A reunião destacou novos acordos comerciais, como o tratado de livre comércio com a Palestina, e a abertura de diálogos com Japão, El Salvador, Panamá, República Dominicana e Emirados Árabes Unidos. Além disso, o Mercosul busca concluir tratados com a União Europeia e o Efta.
A possibilidade de acordos comerciais em separado foi outro tema em pauta. O Uruguai, que já havia manifestado interesse em negociações individuais com a China, foi apoiado pelo Brasil no governo Bolsonaro. No entanto, Lula enfatizou que qualquer tratado deve considerar todos os membros do bloco.
Tensão com a Argentina sobre Temas Sociais
A diplomacia argentina sob o governo Milei bloqueou o consenso na declaração final do Mercosul, principalmente em relação a temas como gênero e a Agenda 2030 da ONU. Lula criticou essa postura, afirmando que “apagar a palavra gênero de documentos só aumenta a violência que vivem mulheres e meninas todos os dias”. O presidente brasileiro também mencionou que divergências são normais, mas que o importante é o funcionamento do bloco.
Nos corredores do evento, membros da delegação argentina afirmaram que as relações com o Brasil permanecem as mesmas, apesar das evidentes arestas. Em seu discurso, Lula reforçou a seriedade da questão de gênero e criticou a omissão desses tópicos.
Após a cúpula, Lula seguirá para Santa Cruz de la Sierra, onde se reunirá com o presidente boliviano Luis Arce para discutir acordos em energia e infraestrutura. Lula também tentará mediar a reconciliação entre Arce e o ex-presidente Evo Morales, visando fortalecer a esquerda boliviana e prevenir novas tentativas de golpe.
A declaração final da cúpula não mencionou a Venezuela, mas condenou a tentativa de golpe na Bolívia. As divergências com a Argentina e a ausência de Milei sinalizam desafios futuros para o Mercosul, mas a entrada da Bolívia e novos acordos comerciais mostram um bloco ativo e buscando expandir suas parcerias internacionais.