Chás anti-inflamatórios ganham força nas redes, mas o que a ciência realmente confirma?

Camomila, chá verde e erva-doce viraram febre nas redes sociais por seus supostos efeitos anti-inflamatórios. Mas será que funcionam mesmo? Especialistas analisam os benefícios e alertam sobre exageros.

Nos últimos meses, um hábito antigo voltou aos holofotes: preparar chá como solução natural para dores, inflamações e desconfortos do dia a dia. Vídeos viralizados no TikTok e no Instagram indicam receitas com camomila, chá verde, hortelã e até erva-doce como alternativas simples para “desinflamar o corpo”. Mas o que dizem os estudos?

A inflamação é um mecanismo natural do corpo diante de agressões como infecções, má alimentação e estresse. O problema começa quando ela se torna crônica, silenciosa e persistente. Essa inflamação de baixo grau está ligada a doenças como obesidade, diabetes, distúrbios intestinais e problemas cardiovasculares — e, por isso, cresce a busca por alimentos com ação anti-inflamatória.

O que a ciência diz sobre os chás mais populares

De acordo com médicos e nutricionistas, alguns chás realmente possuem compostos naturais que ajudam a modular inflamações. O segredo está nos polifenóis e flavonoides, antioxidantes com potencial benéfico. Porém, especialistas são unânimes em afirmar: chás não substituem tratamentos médicos e devem ser usados como coadjuvantes em uma rotina equilibrada.

A camomila, por exemplo, é reconhecida por conter apigenina, um flavonoide com propriedades calmantes. Seu consumo pode contribuir para melhorar o sono e reduzir sintomas leves de inflamação. Já o chá verde — feito da planta Camellia sinensis — é fonte de catequinas e costuma ser associado à melhora da função cardiovascular e à redução de inflamações sistêmicas.

A erva-doce, por sua vez, é conhecida por aliviar cólicas e gases. Contém anetol, substância com ação anti-inflamatória e antiespasmódica. O chá de hortelã também pode ajudar no alívio de desconfortos digestivos e em quadros leves de inflamação intestinal.

Moderação e atenção às espécies recomendadas

Apesar da popularidade, nem toda planta é segura para o preparo de chá. A Anvisa mantém uma lista com as espécies e partes vegetais autorizadas. Substâncias como cúrcuma e gengibre, por exemplo, são liberadas como temperos, mas não para infusão em chá.

Outro ponto importante: estudos clínicos que comprovam a eficácia dos chás ainda são limitados. Pesquisas apontam que o chá preto pode reduzir níveis de proteína C-reativa — um marcador inflamatório — em pacientes com risco cardíaco, mas os resultados variam conforme o organismo, a frequência do consumo e a concentração dos ativos.

Chás ajudam, mas estilo de vida é o que realmente inflama (ou desinflama)

Hábitos como estresse, sedentarismo, noites mal dormidas, tabagismo e dieta rica em ultraprocessados são os principais gatilhos da inflamação crônica. Segundo especialistas, uma alimentação rica em fibras, frutas, vegetais e substâncias naturais pode ser decisiva na prevenção de doenças inflamatórias — e os chás entram como parte desse contexto.

Portanto, embora os chás naturais ofereçam benefícios reais, usá-los como panaceia pode ser um erro. O melhor caminho é a prevenção e o equilíbrio.