CEO de escritório que move ação bilionária contra a BHP é afastado

O advogado britânico Tom Goodhead, fundador do escritório Pogust Goodhead e nome central por trás da ação coletiva de £36 bilhões contra a mineradora BHP, foi abruptamente afastado do cargo de CEO da firma. A mudança ocorre em um momento decisivo para o processo que representa cerca de 640 mil vítimas do colapso da barragem de Mariana, em Minas Gerais.

Saída ocorre após tensões com financiadores e às vésperas de decisão judicial

De acordo com informações divulgadas pelo Financial Times, a saída de Goodhead está relacionada a um conflito com o fundo de hedge norte-americano Gramercy, responsável por mais de £450 milhões (R$ 3,1 bilhões) em financiamento para a causa. O portal obteve acesso a um memorando interno que confirma o afastamento e informa que Alicia Alinia, atual COO, assumirá o comando do escritório interinamente.

A mudança no topo da Pogust Goodhead ocorre justamente quando o grupo jurídico aguarda uma decisão crucial no processo contra a BHP. A ação, que está sendo movida na Justiça inglesa, busca reparação pelos impactos do desastre ambiental de 2015 em Mariana (MG).

Apesar da troca de liderança, a empresa diz continuar com o apoio financeiro necessário para seguir com o caso. Segundo o comunicado interno citado pelo FT, a nova estrutura de governança da firma inclui ainda Howard Morris, ex-presidente global do escritório Dentons, e Joseph Moreno, ex-promotor federal nos EUA. Goodhead permanecerá no conselho, mas sem envolvimento na gestão diária.

Em nota, a Pogust Goodhead destacou que seus financiadores “continuam acreditando na força da ação judicial” e reafirmou que o fundo Gramercy não terá interferência na condução operacional do escritório.

“Entendo que essa mudança pode parecer inesperada, mas a função do novo conselho é garantir que a empresa seja administrada com clareza, justiça e eficiência”, declarou Alinia.

A Pogust Goodhead, fundada em 2018, especializou-se em casos de proteção ao consumidor e ambientais.

O escritório liderou ações contra a British Airways, por vazamento de dados, e contra a Volkswagen, no escândalo do diesel. No entanto, a expansão acelerada levantou questionamentos sobre sua estabilidade financeira.

O relatório financeiro de 2022, apresentado com atraso neste ano, alertou para uma “incerteza material” sobre a continuidade do escritório, dada sua alta dependência de recursos externos. À época, Goodhead disse ao Financial Times que o modelo de crescimento da firma “lembra mais uma startup do Vale do Silício do que um escritório de advocacia tradicional” e garantiu contar com o apoio dos financiadores.

O cofundador Harris Pogust também deixou o escritório no final de 2024. A mineradora brasileira Vale, que controla junto à BHP a Samarco, responsável pela barragem, também é ré no processo.