Casais sorodiferentes vivem com normalidade após avanços no tratamento do HIV

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

A vida de pessoas que vivem com HIV mudou de forma profunda nos últimos anos. O acesso amplo à terapia antirretroviral pelo SUS transformou o diagnóstico, reduziu o estigma e permitiu que casais sorodiferentes tenham relações afetivas e sexuais seguras sem risco de transmissão. Esse cenário aparece com força no relato de quem passou pela experiência e hoje vê o tema com outros olhos.

O produtor Victor Bebiano, 28, lembra que o impacto inicial do diagnóstico veio acompanhado de medo e silêncio. Ele descobriu o HIV em 2015. A reação da família foi cercada pela preocupação com o preconceito. No entanto, o que surgiu na década seguinte foi o oposto: uma rotina estável, relações afetivas saudáveis e a possibilidade de falar abertamente sobre o tema. Victor dirige curtas, produz conteúdo e afirma que o vírus não limitou sua vida.

Hoje ele namora o bailarino Larry Anjos, também de 28 anos. O casal vive um relacionamento sorodiferente. Como Victor faz o tratamento corretamente, mantém carga viral indetectável e, portanto, não transmite o HIV. A evidência científica que comprova isso ficou conhecida pela sigla i = i (indetectável = intransmissível). Segundo especialistas, quando o tratamento é seguido de forma contínua, o risco de transmissão por via sexual é zero.

Comportamento e cuidados

O tratamento mudou a lógica das relações afetivas. A medicação diária, distribuída pelo SUS, reduz o vírus até níveis que não aparecem em exame de sangue. Além disso, garante que o sistema imunológico se mantenha protegido. Segundo infectologistas, esse processo costuma levar até seis meses, embora varie de acordo com as condições clínicas de cada paciente.

Os relatos de pacientes mostram que o desconhecimento ainda pesa. Victor conta que demorou a entender o conceito de indetectável. Por isso, no início, acreditava que precisaria se relacionar apenas com pessoas que também vivessem com HIV ou, obrigatoriamente, usar preservativo. Com informação adequada, ganhou tranquilidade para explicar aos parceiros e reorganizar a própria vida.

A influenciadora Jéssica Mattar, 34, viveu experiência semelhante. Ela recebeu o diagnóstico em 2022, depois de um período de internações e incertezas. Ao iniciar o tratamento, recuperou a estabilidade clínica. Nos relacionamentos seguintes, preferiu contar sobre o HIV antes mesmo do primeiro beijo. Para ela, transparência sempre foi essencial. Casada desde 2023 com Tiago Luís, 22, que não vive com o vírus, afirma que nunca enfrentou discriminação dentro do casal.

Diagnóstico e rotina de tratamento

O diagnóstico é feito por exame de sangue em serviços de saúde. O paciente passa por um teste inicial e, se houver resultado positivo, realiza um exame confirmatório. A partir daí, recebe acompanhamento médico, inicia a terapia antirretroviral e segue com consultas regulares. As unidades de saúde também oferecem testagem para outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e hepatites.

O SUS disponibiliza comprimidos de uso diário. Segundo especialistas, os efeitos colaterais são raros. A rotina de acompanhamento é fundamental para garantir a carga viral indetectável. Esse controle protege a saúde da pessoa e impede a transmissão do HIV.

Família e planejamento reprodutivo

Casais sorodiferentes têm autonomia para decidir quando ter filhos. De acordo com infectologistas, o principal cuidado é manter o tratamento. Quando a gestante está indetectável, o risco de transmissão vertical para o bebê é inferior a 2%. Além disso, a via de parto pode ser escolhida de acordo com critérios obstétricos, não apenas por causa do HIV.

Jéssica viveu isso na prática. Depois do diagnóstico, engravidou novamente e teve duas crianças com acompanhamento médico contínuo. Ela relata que não houve diferenças significativas em relação às gestações anteriores.

Por outro lado, quando o parceiro com HIV não é quem vai gestar, o processo pode envolver métodos como relação sexual sem preservativo em períodos seguros, desde que a carga viral esteja indetectável. Há ainda a possibilidade de uso de PrEP (profilaxia pré-exposição) pelo parceiro negativo, embora esse recurso não seja obrigatório quando o paciente está indetectável.

Vida cotidiana e convivência

Especialistas reforçam que o cotidiano de casais sorodiferentes não difere da experiência de qualquer outro casal. O parceiro sem HIV pode acompanhar consultas, lembrar sobre horários da medicação e ajudar na organização da rotina, mas não precisa adotar cuidados especiais no dia a dia.

Segundo médicos, a maior barreira ainda é a falta de informação. Por isso, reforçam que a divulgação correta sobre i = i e sobre o tratamento contribui para diminuir o estigma e aumentar a adesão às terapias. A ciência oferece as ferramentas necessárias. O desafio agora é fazer o conhecimento chegar a todos.