Um caminhão carregado com três toneladas de doações, incluindo roupas, colchões, cobertores e água, está retido há mais de 20 dias na alfândega do lado argentino da fronteira com o Brasil. As doações foram coletadas por brasileiros residentes na Argentina, principalmente estudantes de medicina, com o apoio de argentinos sensibilizados pela tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul.
A carga está presa em Paso de los Libres, na Argentina, aguardando uma autorização que a Embaixada do Brasil em Buenos Aires prometeu obter há duas semanas. A burocracia necessária para a liberação do caminhão tem sido um obstáculo significativo, causando frustração entre os envolvidos na coleta das doações.
Cristina Vieira, uma estudante de medicina em Rosário, expressou sua desolação e indignação: “Estamos tristes, totalmente tristes. Saber que todo o nosso esforço está preso na fronteira é desumano.” Felipe Laydner, coordenador de logística das doações, compartilhou o sentimento de raiva e impotência: “É um sentimento de raiva, de insegurança, de ver que quando a gente precisa que o governo ajude ou que a Embaixada ajude, na verdade, só atrapalham.”
A campanha solidária mobilizou mais de 30 brasileiros e envolveu toda a cidade de Rosário, resultando em três toneladas de itens essenciais. A empresa Dalanema Transportes, que não cobrou pelo frete, está acumulando prejuízos diários devido à retenção do caminhão. Danilo Scheidler, dono da empresa, estima perdas em torno de R$ 30 mil, podendo chegar a R$ 40 mil na próxima semana.
Posição do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores afirmou que não foi notificado com antecedência sobre a doação, o que impossibilitou a realização dos trâmites necessários em tempo hábil. No entanto, a RFI confirmou que os envolvidos enviaram vários e-mails à Embaixada desde 21 de maio, e que esta só respondeu em 29 de maio, quando o caminhão já estava na fronteira. A Embaixada iniciou o processo de liberação da carga apenas nesta semana, solicitando dados básicos do caminhão.
Apelo e frustração dos voluntários
Voluntários expressaram sua frustração e fizeram apelos através de vídeos, destacando o impacto da burocracia na entrega das doações. Flávia Azevedo, uma das voluntárias, desabafou: “Isso gera uma angústia para a gente porque toda a nossa ideia era de ajudar o povo do Rio Grande do Sul, que ainda está precisando”.
A situação evidencia a necessidade de maior eficiência e sensibilidade por parte das autoridades para facilitar a entrega de ajuda humanitária em situações de emergência. A liberação do caminhão, que está a apenas 8 km de cruzar a fronteira, é crucial para que as doações cheguem aos necessitados no Rio Grande do Sul, onde a Defesa Civil brasileira aguarda a carga para distribuição.
Texto inspirado em reportagem de Folha de S.Paulo