Em 2023, a Argentina era o destino favorito dos brasileiros em busca de boa gastronomia a preços acessíveis. Vídeos de turistas mostrando refeições completas por menos de R$ 100 viralizaram nas redes sociais. No entanto, um ano depois, o cenário mudou drasticamente. Com as medidas econômicas adotadas pelo presidente Javier Milei, o país ficou mais caro em dólares, enquanto o real perdeu valor, encarecendo ainda mais a viagem para os brasileiros.
O g1 foi até Buenos Aires para entender o que provocou essa mudança nos preços. Hoje, um simples café com torta pode custar cerca de R$ 80, enquanto um hambúrguer com batatas e refrigerante sai por quase R$ 90. Já uma refeição completa, com corte de carne, sobremesa e bebida, chega a R$ 125.
Esses preços refletem os ajustes econômicos promovidos por Milei, que, ao assumir a presidência, implementou o chamado “Plano Motosserra”. O programa incluiu cortes de gastos públicos, desregulamentação da economia e redução da intervenção do Estado, com o objetivo de atrair investimentos e estabilizar a moeda.
Uma das primeiras medidas foi a desvalorização do peso argentino. O câmbio oficial, que estava congelado, foi reajustado de 400 para 800 pesos por dólar, com uma desvalorização controlada de 2% ao mês. No entanto, a inflação no país disparou, atingindo 25,5% em dezembro de 2023. Apesar de ter desacelerado para 2,7% em dezembro de 2024, o impacto nos preços foi significativo.
Além disso, Milei removeu subsídios de serviços essenciais, como transporte e energia, e liberou o congelamento de preços em supermercados. Essas medidas aumentaram o custo de vida para os argentinos e também afetaram os turistas, que passaram a pagar mais por produtos e serviços.
Fatores que influenciam no aumento do preço
Outro fator que contribuiu para o encarecimento da Argentina foi a valorização do dólar em relação ao real. Em 2024, o dólar subiu 27,35%, ultrapassando os R$ 6 pela primeira vez. Isso fez com que o poder de compra dos brasileiros diminuísse, justamente quando a Argentina ficou mais cara.
No passado, a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo, conhecido como “dólar blue”, permitia que os turistas aproveitassem preços mais baixos. Mas, com as medidas de Milei, essa diferença diminuiu. O dólar oficial está atualmente cotado a 1.060 pesos, enquanto o dólar blue gira em torno de 1.200 pesos. Com o câmbio mais estável, a desvalorização do peso não acompanhou o ritmo da inflação, tornando o país mais caro em dólares.
O impacto foi sentido tanto por argentinos quanto por turistas. O aumento dos preços de alimentos, transporte e lazer transformou a experiência de viajar para a Argentina. Se antes era possível ostentar com pouco, agora os brasileiros precisam ajustar o orçamento.
Especialistas acreditam que a política de desvalorização controlada do peso não será sustentável a longo prazo. Em algum momento, o governo pode ser forçado a permitir uma nova desvalorização da moeda para tornar o país mais competitivo. Até lá, a Argentina continuará sendo um destino caro para quem viaja com reais.