O debate sobre a substituição do dólar norte-americano nas transações do Brics ganhou destaque nas últimas semanas, intensificado por declarações polêmicas de líderes mundiais. Enquanto o bloco avalia formas de reduzir sua dependência da moeda americana, os Estados Unidos, por meio do presidente eleito, reagiram com duras críticas e ameaças econômicas.
O papel do dólar e a proposta do Brics
Desde o Acordo de Bretton Woods, em 1944, o dólar consolidou-se como moeda-padrão no comércio global. Sua hegemonia permite aos Estados Unidos influenciar mercados globais por meio de sua política monetária. Contudo, os países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além dos novos membros Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos — buscam maior autonomia financeira e geopolítica.
O bloco discute a adoção de moedas locais ou mesmo a criação de uma nova moeda para transações, como forma de evitar a vulnerabilidade às oscilações do dólar. A exclusão da Rússia do sistema SWIFT após sanções ocidentais e a expansão do uso do yuan chinês em transações bilaterais ilustram essa tendência.
Crescimento econômico e obstáculos
O Brics representa 46% da população mundial e seu PIB combinado já ultrapassa o das potências ocidentais, segundo o FMI. Apesar disso, há desafios significativos, como a falta de coesão política e diferenças culturais entre os membros.
Líderes como o presidente brasileiro têm defendido essa agenda em cúpulas do bloco, argumentando que um sistema financeiro menos dependente do dólar fortaleceria a cooperação econômica. O Brasil, por exemplo, já firmou acordos com a China para facilitar transações diretas entre o real e o yuan.
O presidente eleito dos EUA classificou a proposta de substituir o dólar como “absurda” e ameaçou com tarifas de 100% sobre produtos de países que apoiarem a ideia. A postura reflete o protecionismo que marca sua política econômica, incluindo planos de tarifas adicionais sobre importações chinesas e mexicanas.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o “Banco dos Brics”, já financia projetos em moedas locais para reduzir a dependência do dólar. No entanto, especialistas apontam que a criação de uma moeda própria para o bloco ou a ampla substituição do dólar não deve ocorrer no curto prazo.
A discussão reflete a crescente busca por um sistema econômico mais multipolar, mas enfrenta resistência das potências tradicionais e desafios internos no bloco. Enquanto isso, os Brics continuam explorando alternativas para fortalecer sua posição no cenário global.