Dois jovens brasileiros, Phelipe Ferreira e Luckas Santos, viveram meses de terror após caírem em uma armadilha de tráfico humano no Sudeste Asiático. Atraídos por falsas promessas de emprego, foram mantidos reféns em Mianmar e obrigados a aplicar golpes pela internet contra outras pessoas, incluindo brasileiros.
Escravizados em uma fábrica de golpes
Phelipe Ferreira relatou que foi recrutado por uma suposta oportunidade de trabalho em novembro de 2024. Ao chegar a Mianmar, percebeu que havia caído em um esquema criminoso. Ele e outros imigrantes eram forçados a trabalhar até 22 horas por dia aplicando golpes cibernéticos. Caso não atingissem as metas impostas pelos líderes da organização, eram submetidos a punições severas, como agachamentos forçados em superfícies pontiagudas, espancamentos e eletrochoques.
O golpe consistia em se passar por uma modelo chinesa que pedia ajuda financeira. O contato começava com perguntas sobre nome, idade, estado civil e profissão da vítima. Após alguns dias, o fraudador solicitava uma pequena quantia em dinheiro, prometendo uma comissão em troca. Com o tempo, as exigências financeiras aumentavam, chegando a valores elevados.
Phelipe revelou que brasileiros eram mais difíceis de enganar, mas pessoas de outros países, como Rússia e Ucrânia, eram alvos mais fáceis. Ele mencionou um caso em que uma mulher do Caribe perdeu 350 mil euros após acreditar nas falsas promessas de um golpista.
Violência e punições constantes
Os reféns eram constantemente monitorados e qualquer sinal de resistência era punido. Phelipe relatou que viu companheiros de cativeiro sendo brutalmente espancados. Um deles, após tentar fugir, foi submetido a torturas por 20 dias e permaneceu amarrado a uma cama de ferro.
O brasileiro contou que, por medo das represálias, tentava enganar vítimas com menor poder aquisitivo, esperando que o golpe não fosse bem-sucedido. No entanto, os líderes chineses da organização o pressionavam a seguir com as fraudes.
Fuga e resgate
Determinado a escapar, Phelipe descobriu que havia outro brasileiro na mesma situação. Luckas Santos estava preso em um quarto escuro com as mãos amarradas. Mesmo proibidos de se comunicar, os dois planejaram uma fuga.
A primeira tentativa, no dia 1º de janeiro, falhou. Uma nova tentativa foi feita no Ano Novo Chinês, mas foi abandonada devido ao forte esquema de segurança. A oportunidade final surgiu em 8 de fevereiro. Durante a fuga, um guarda armado com um facão tentou impedir sua saída. Capturados, os jovens foram levados de volta e agredidos pelos líderes da máfia.
Quando já haviam perdido a esperança, um grupo da Tribo Karen invadiu o local e os resgatou. Em seguida, foram levados para a Tailândia, onde receberam apoio da Embaixada Brasileira.
Agora, de volta ao Brasil, Phelipe tenta superar os traumas vividos e retomar sua vida. Ele destaca a importância de verificar a legitimidade das ofertas de trabalho no exterior para evitar cair em armadilhas semelhantes.
“Vim para cá com um sonho, que foi destruído. Sempre procure saber mais sobre a empresa em que pretende trabalhar e se ela é realmente legalizada”, alertou.