Brasil tem alta de 6% nas emissões de metano

As emissões brasileiras de metano subiram 6% em quatro anos e chegaram a 21,1 milhões de toneladas em 2023, segundo o Observatório do Clima. O volume é o segundo maior da série histórica e coloca o país na quinta posição mundial, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia.

Embora o total de gases de efeito estufa tenha caído 12% em 2023, o metano avançou. E isso preocupa: comparado em horizonte de 100 anos, ele pode aquecer o planeta até 28 vezes mais que o CO₂.

De acordo com o SEEG, três quartos do metano nacional vêm da agropecuária. A pecuária bovina respondeu por 14,5 milhões de toneladas, impulsionada por um rebanho recorde de 238,6 milhões de cabeças.

Logo atrás aparecem os resíduos urbanos, com 3,1 milhões de toneladas, majoritariamente de lixo orgânico em aterros e lixões. Em seguida vêm mudanças de uso da terra e florestas, energia e processos industriais, em patamares bem menores.

Ainda em 2021, o Brasil aderiu ao Compromisso Global do Metano, que prevê corte de 30% até 2030. No entanto, falta uma estratégia oficial para cumprir a meta. Em 2022, o próprio Observatório indicou que seria possível reduzir até 36% no mesmo período, caso o país combine ações no campo, nos resíduos e no combate ao desmatamento.

O que está por trás da alta, e o que fazer até a COP30

O avanço do rebanho explica parte da pressão recente. Mesmo assim, há espaço para reduzir emissões sem perder produtividade. Segundo especialistas, ajustes de dieta, manejo de pasto e encurtamento do tempo de abate diminuem a fermentação entérica por animal. Além disso, melhoramento genético ajuda a produzir mais carne com intensidade menor de metano por quilo.

Nos resíduos, a agenda é conhecida. A eliminação dos lixões prevista em lei ainda não saiu do papel em muitos municípios. Portanto, acelerar a coleta seletiva e a reciclagem é decisivo.

Ao mesmo tempo, capturar o biogás dos aterros e transformá-lo em energia reduz emissões e gera receita. Assim, o passivo vira ativo.

Há um ponto metodológico sensível. O Inventário Brasileiro de Emissões não contabiliza queimadas em vegetação nativa. Desse modo, parte do impacto do fogo, crescente na Amazônia e no Cerrado, pode estar fora das estatísticas oficiais. Pesquisadores defendem incluir essa parcela para ter um retrato mais fiel e orientar políticas públicas.

O Observatório propõe acelerar cortes já nesta década. A rede calcula que reduzir as liberações de metano em 45% até 2040 ajudaria a segurar o aquecimento global em 0,3 °C.

Para chegar lá, será preciso combinar regeneração florestal, recuperação de solos e renováveis com uma estratégia específica para o metano. A poucos meses da COP30, em Belém, o recado é direto: metas ambiciosas só funcionam com plano, cronograma e financiamento.