Brasil pode incluir minerais críticos em acordo com EUA, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil avalia negociar a exploração de minerais críticos e terras raras com os Estados Unidos. A proposta surgiu como resposta ao tarifaço aplicado pelos norte-americanos sobre produtos brasileiros. Segundo ele, o país pode usar seus recursos estratégicos como parte das tratativas para ampliar investimentos e reduzir tensões comerciais.

Minérios estratégicos entram na mira em meio ao tarifaço de Trump

Durante entrevista à BandNewsTV, Haddad explicou que os EUA têm interesse em firmar acordos envolvendo minerais como o nióbio e o lítio. Esses insumos são fundamentais para a produção de baterias, superímãs e componentes de alta tecnologia. “Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais, enquanto nós temos uma grande reserva. Podemos cooperar para produzir baterias mais eficientes e avançar em novas tecnologias”, afirmou.

Além disso, o ministro mencionou o setor de data centers como uma oportunidade para parcerias. Segundo ele, o Brasil tem energia em abundância, o que torna o país um polo atrativo para estruturas de armazenamento de dados. Ainda que o foco inicial seja contornar os impactos do tarifaço, a ideia do governo é ampliar a cooperação bilateral com os EUA em áreas estratégicas.

Haddad ressaltou que o Brasil não quer depender de um único bloco econômico. Por isso, busca atrair investimentos diversificados. “Não podemos ser satélite de ninguém, nem da China, nem da Europa, nem dos Estados Unidos. Nosso objetivo é ampliar relações, preservar a soberania e gerar desenvolvimento.”

O posicionamento ocorre após o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, declarar a representantes do setor de mineração que Washington está disposto a negociar diretamente o acesso aos chamados minerais estratégicos. A declaração reforça o interesse norte-americano em ampliar a influência no setor, especialmente diante da concorrência com a China.

Entretanto, a proposta encontrou resistência no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com críticas à possível abertura dos recursos nacionais ao mercado externo. “Aqui ninguém põe a mão. Temos nosso ouro, nosso petróleo e nossos minerais para proteger. Este país é do povo brasileiro”, declarou, ao defender a soberania sobre as riquezas naturais.

Terras raras: riqueza silenciosa e estratégica do Brasil

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos usados em aparelhos eletrônicos, turbinas eólicas, veículos elétricos e até equipamentos militares. Apesar de serem utilizados em pequenas quantidades, não há substitutos viáveis para eles. Por esse motivo, seu valor comercial é elevado.

O Brasil detém a segunda maior reserva do mundo, atrás apenas da China. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, cerca de 25% do território nacional tem potencial para exploração desses minerais. Um dos principais polos de estudo fica em Araxá, Minas Gerais, onde já se pesquisa a produção de superímãs.

Entre os elementos mais valiosos estão o neodímio e o praseodímio, usados em ímãs permanentes. Esses ímãs são duráveis, potentes e essenciais para a miniaturização de peças tecnológicas. O preço do quilo de térbio, por exemplo, pode ultrapassar os R$ 5.000, enquanto o minério de ferro custa cerca de R$ 0,60 por quilo.

Além da indústria civil, esses minerais têm papel decisivo na defesa. Estão presentes em aviões de combate, submarinos e sensores a laser. Como resultado, têm se tornado foco de disputa geopolítica entre as grandes potências.