Brasil intensifica combate à mineração ilegal na Amazônia

Em uma operação de grande escala no coração da Amazônia, uma equipe de agentes brasileiros encontrou um acampamento de mineração ilegal abandonado às pressas. Antes da chegada dos helicópteros, os ocupantes haviam fugido para a selva, deixando roupas penduradas no varal e equipamentos para trás. Entre os itens encontrados estavam dispositivos de rádio, jerricanes de diesel e um motor.

Os agentes procederam com a destruição dos materiais e de uma pista clandestina, incendiando 2.000 litros de combustível e gerando uma coluna de fumaça negra visível acima da copa das árvores.

De acordo com um dos soldados envolvidos na operação, os prejuízos infligidos aos mineradores ilegais serão significativos e tornarão o retorno ao local mais difícil. Este é apenas um dos muitos esforços do Brasil para combater a mineração ilegal em sua maior reserva indígena, uma área remota do tamanho de Portugal, lar de tribos ainda relativamente isoladas.

Reversão de política e ações reforçadas

A mineração ilegal de ouro é uma indústria multibilionária que causa severos danos ecológicos e violações de direitos humanos, impulsionada pela demanda global pelo metal precioso. No Brasil, a expansão desta atividade foi exacerbada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de facilitar a ação de mineradores ilegais, madeireiros e pecuaristas na Amazônia.

Em contraste, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu proteger a floresta tropical e suas populações. “O governo brasileiro removerá e acabará com a mineração em terras indígenas a partir de agora”, afirmou Lula no início de 2023.

Após o início de seu mandato, o governo lançou ações emergenciais de segurança e saúde no território Yanomami, onde a presença de mineradores ilegais causou uma crise de doenças e fome entre seus 28.000 habitantes. Embora a expulsão inicial dos invasores tenha sido bem-sucedida, muitos começaram a retornar, levando o governo a intensificar a presença de forças policiais e militares na região.

A atual administração criou uma força-tarefa com um orçamento de R$1,2 bilhões para 2024, várias vezes maior que o orçamento anterior.

“Precisamos tornar suas atividades tão caras que não compense mais”, afirmou Nilton Tubino, chefe da força-tarefa.

Desde o final de fevereiro, foram destruídos barcos, pequenos aviões e maquinários, e quase 11 toneladas de ouro foram apreendidas. Aproximadamente 1.200 missões de fiscalização foram realizadas, com postos médicos reabertos e duas novas bases de apoio construídas pelas forças armadas.

As operações enfrentam desafios significativos, como táticas de evasão dos mineradores, que incluem trabalho noturno e dispersão dos acampamentos. A comunicação por satélite permite que os mineradores sejam alertados sobre as incursões. Além disso, as autoridades estão focadas em desmantelar as redes ilícitas e logísticas por trás da mineração. A polícia federal solicitou à justiça a apreensão de R$2 bilhões em ganhos do comércio ilegal.

Desafios e perspectivas futuras

O garimpo, ou mineração artesanal, frequentemente não autorizada, quase dobrou nas áreas protegidas do Brasil entre 2018 e 2022. Na terra Yanomami, a mineração aumentou o equivalente a 2.500 campos de futebol em 2022, representando um crescimento de 54% em relação ao ano anterior. Mineração ilegal provoca desmatamento, escavações de poços para extração de ouro e poluição dos rios com mercúrio.

Embora o número de mineradores na região tenha diminuído em cerca de 80% desde 2022, os desafios permanecem. Estêvão Senra, do Instituto Socioambiental, aponta que, após anos de subfinanciamento, é necessário mais equipamento e pessoal para garantir a proteção da Amazônia.

A presença da mineração ilegal também tem impactos econômicos em Boa Vista, a capital do estado de Roraima, onde o comércio de ouro é uma parte significativa da economia local. Giliard, ex-minerador, mencionou que a atividade mineradora foi lucrativa, mas ele parou devido a preocupações de segurança. Locais afetados pelo declínio da mineração enfrentam dificuldades econômicas, incluindo uma queda nas vendas em lojas de joias.

Para os defensores dos direitos indígenas, o ouro extraído está manchado com o sangue dos Yanomami. Eles pedem uma presença duradoura do estado para garantir a proteção das terras e o retorno à normalidade.

“Será necessário um longo tempo para que o povo Yanomami se recupere completamente”, afirma Júnior, líder indígena. “Tememos que, quando as operações terminarem e a força-tarefa de Lula se retirar, os mineradores voltem.”

Artigo traduzido de Financial Times News