A recente crise no mercado financeiro brasileiro trouxe os holofotes internacionais para o país, marcando o primeiro grande impacto do governo de Luiz Inácio Lula da Silva nos mercados globais em anos. Em meio à desvalorização recorde do real, os principais assessores econômicos do presidente enfrentam uma dura realidade: suas ações para conter o pânico parecem insuficientes.
Intervenções do Banco Central
Na última quinta-feira, o Banco Central vendeu US$ 8 bilhões em leilões de dólares no mercado à vista, marcando a maior operação diária desde 1999, quando o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante. A iniciativa ajudou o real a se recuperar temporariamente, subindo 2,4% e liderando os ganhos entre mercados emergentes. Apesar disso, o impacto de intervenções como essa tem se mostrado limitado, com o real acumulando uma desvalorização de 20% em 2024.
Além dos leilões, o Banco Central anunciou mais US$ 4 bilhões em linhas de crédito e outros US$ 3 bilhões em novos leilões de dólares. Mesmo com essas medidas, analistas alertam que a confiança do mercado só será restaurada com ações concretas para reduzir o déficit público, que atualmente corresponde a cerca de 10% do PIB.
Dilema fiscal e percepções do mercado
O plano do governo para cortar R$ 70 bilhões até 2026, incluindo ajustes no salário mínimo e restrições em programas sociais, tem enfrentado resistência no Congresso. Lula, que recentemente passou por cirurgias de emergência, reluta em adotar medidas mais austeras, o que preocupa investidores.
Analistas destacam o risco de “dominância fiscal”, cenário em que a política fiscal expansionista enfraquece a eficácia das políticas monetárias, como o aumento de juros. O Banco Central elevou a taxa básica para 12,25% e sinalizou novos aumentos. Contudo, a falta de medidas robustas para conter o déficit ameaça a estabilidade econômica.
A equipe econômica de Lula rejeita a ideia de dominância fiscal, argumentando que a política monetária ainda é capaz de controlar a inflação e desacelerar o crescimento. Contudo, economistas projetam que as expectativas inflacionárias continuarão acima da meta até 2027, minando a confiança dos mercados.
Cenário futuro e desafios
Embora o Brasil disponha de reservas internacionais significativas, cerca de US$ 360 bilhões, e baixa exposição a dívida externa, a instabilidade atual alimenta receios de longo prazo. Investidores aguardam sinais de comprometimento do governo com reformas estruturais e ajuste fiscal.
Na sexta-feira, Lula deve se reunir com ministros, o que pode trazer novos direcionamentos. Porém, analistas permanecem céticos quanto à capacidade do governo de reverter a percepção negativa no curto prazo, com muitos investidores já receosos de apostar novamente no mercado brasileiro.