A seca severa no Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, está gerando impactos significativos nos preços globais da bebida. Em 2024, o país registrou seu ano mais quente da história e enfrentou um número recorde de incêndios florestais, afetando diretamente a produção de café e elevando os custos de um espresso ou latte em mercados internacionais como Paris, Nova York e Tóquio.
Moacir Donizetti, um produtor de café no estado de São Paulo, foi uma das vítimas dessa crise. No ano passado, um incêndio florestal destruiu cinco hectares de sua plantação, equivalente a um terço de sua área produtiva.
“Foi desesperador ver as chamas avançarem, destruindo nossa plantação e chegando a poucos metros de casa”, relatou. Ele calcula que sua terra levará de três a quatro anos para se recuperar.
Além dos incêndios, ele ressalta que o clima está cada vez mais imprevisível. “Faz muito mais calor, e às vezes não chove por meses”, lamenta.
A produção de café no Brasil, que representou mais de um terço da oferta global em 2024, sofreu uma queda significativa. Esse cenário fez os preços do café arábica atingirem o maior patamar desde 1977, com a libra-peso cotada a US$ 3,48 na Bolsa de Nova York.
Custos do café para o Brasil e adaptação ao clima
Para os produtores, a situação é desafiadora. “Estamos investindo mais para produzir o mesmo ou até menos do que antes”, explica Guy Carvalho, produtor e consultor de café. Ele destaca que as safras têm sido prejudicadas por eventos climáticos extremos desde 2021, gerando frustração no mercado.
Além disso, questões geopolíticas, como possíveis tarifas dos Estados Unidos e novas regulamentações da União Europeia sobre desmatamento, também estão contribuindo para os altos preços.
Em meio às adversidades, alguns produtores estão adotando métodos inovadores. Sergio Lange, cafeicultor em Divinolândia, no estado de São Paulo, recorreu ao cultivo de café sombreado, técnica tradicional em países como a Etiópia. Plantar sob a proteção de árvores ajuda a regular a temperatura e permite que os grãos amadureçam lentamente, resultando em um produto de maior qualidade.
Desde 2022, Lange e outros 50 produtores vêm aplicando um modelo de cultivo regenerativo, que combina café com outras espécies, dispensa pesticidas e utiliza fontes naturais de água. Embora a produtividade inicial seja menor, ele acredita que os resultados em médio prazo serão recompensadores.
Para Lange, adaptar-se às mudanças climáticas é crucial. “Produtores que não se ajustarem terão dificuldade para se manter no mercado“, alerta. Enquanto isso, consumidores ao redor do mundo já sentem os efeitos dessa crise no aumento dos preços do café.