Ao assumir a presidência em 2023, Luiz Inácio Lula da Silva prometeu recolocar o Brasil na liderança do debate climático global. Após quatro anos de retrocessos ambientais no governo anterior, sua vitória foi celebrada por ambientalistas. No entanto, a confiança inicial deu lugar à frustração ao investir em petróleo.
A poucos meses da COP30, que acontecerá em Belém do Pará, o governo tem ampliado sua aposta no petróleo. Lula defende a exploração na foz do Rio Amazonas e aprovou a entrada do país na OPEP+, aliança de grandes exportadores de petróleo. Para ambientalistas, essas decisões contradizem o papel que o Brasil deveria assumir como anfitrião da conferência.
Claudio Angelo, do Observatório do Clima, afirma que o país recebeu do mundo o mandato para liderar o debate climático. Segundo ele, apostar na expansão do petróleo é trair essa confiança.
Investimento em petróleo gera críticas
Hoje, o Brasil está entre os maiores exportadores de petróleo do mundo. Mesmo assim, o governo deseja subir ainda mais nesse ranking. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, declarou que o país não deve se envergonhar por ser produtor. Ele afirmou que a atividade é essencial para gerar empregos e crescimento.
Apesar disso, especialistas alertam para os riscos da adesão à OPEP+. Para o presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, integrar a aliança abre espaço para participar de discussões sobre transição energética. No entanto, ambientalistas veem essa justificativa como frágil, já que o Brasil ainda não tem uma política nacional clara para as fontes renováveis.
O governo alega que os lucros obtidos com o petróleo podem financiar a transição para uma economia mais limpa. Entretanto, organizações como a 350.org apontam que o país segue investindo pesado em combustíveis fósseis. Dados do INESC mostram que, em 2022, os subsídios para petróleo, gás e carvão somaram mais de US$ 14 bilhões. Esse valor é cinco vezes maior que o destinado às energias limpas no mesmo período.
Metas tímidas e impactos das mudanças climáticas expõem contradições
Desde o início do novo governo, o desmatamento caiu. No entanto, as metas apresentadas à ONU ainda são vistas como modestas. O Brasil prometeu cortar até 67% das emissões até 2035, com base nos níveis de 2005. Especialistas afirmam que esse compromisso está longe do ideal para conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Além disso, as metas não incluem limites para exportações de petróleo. Embora o Brasil não contabilize as emissões geradas fora do país, a queima do petróleo vendido terá impacto direto no clima global. Segundo o SEEG, se as reservas forem exploradas, os ganhos com a preservação da floresta podem ser anulados.
O país também já sente os efeitos das mudanças climáticas. Em 2024, o Brasil enfrentou a pior seca da história. No mesmo período, incêndios destruíram uma área maior do que a Itália. Um estudo internacional concluiu que esses eventos se tornaram mais intensos devido à ação humana.
Claudio Angelo afirma que o governo sabe o que está em jogo. Ainda assim, interesses políticos e pressões econômicas têm ofuscado decisões mais firmes. Para os ambientalistas, o Brasil precisa escolher entre o protagonismo climático e o avanço da indústria do petróleo.
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