Brasil contesta tarifaço de Trump na OMC e alerta para riscos ao comércio global

O governo brasileiro expressou preocupação formal nesta quarta-feira, 23, com a escalada de tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos. Durante reunião do Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, o embaixador Philip Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, classificou as medidas como “arbitrárias” e “implementadas de forma caótica”.

A manifestação brasileira recebeu o apoio de 40 países, incluindo os 27 membros da União Europeia e outras 13 nações. Apesar de não citar diretamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o discurso ocorre a apenas nove dias da entrada em vigor do aumento tarifário de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado por Trump em 9 de julho.

Durante a fala, o representante brasileiro afirmou que o uso de barreiras comerciais unilaterais coloca em risco o funcionamento do comércio internacional e fere os princípios que sustentam a OMC. Segundo Gough, tais medidas comprometem cadeias globais de valor e podem contribuir para o aumento dos preços e a estagnação econômica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia sinalizado a intenção de recorrer formalmente à OMC, medida considerada mais simbólica do que efetiva por diplomatas.

Isso porque o órgão de solução de controvérsias da instituição encontra-se paralisado e, mesmo que se posicione, não possui atualmente meios de fazer valer suas decisões.

Nesse contexto, o governo brasileiro avalia alternativas, como acionar a OMC em conjunto com outras nações afetadas ou aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao país adotar medidas similares contra parceiros comerciais que imponham barreiras ao Brasil.

O vice-presidente Geraldo Alckmin também se reuniu com representantes de empresas de tecnologia nesta semana para discutir os impactos das tarifas. Segundo integrantes do governo, há receio de que as medidas norte-americanas representem uma forma de interferência em assuntos internos do país.

Ainda durante o encontro na OMC, o embaixador brasileiro declarou que o Brasil continuará priorizando negociações diplomáticas e comerciais, mas ressaltou que, caso não haja avanços, utilizará todos os instrumentos legais disponíveis para proteger a economia nacional. Ele reforçou o compromisso com o multilateralismo e defendeu o fortalecimento do Sistema Multilateral de Comércio como alternativa à fragmentação global.