O ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu apoiadores neste domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro, para um ato pedindo anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. A manifestação interditou um trecho da Avenida Atlântica e contou com a presença de governadores, senadores e deputados aliados.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estimam que o evento reuniu cerca de 18,3 mil pessoas no seu ápice, enquanto a Polícia Militar divulgou um número de 400 mil participantes. Já o Datafolha apontou uma estimativa de 30 mil presentes.
Além de Bolsonaro, estavam no evento os governadores Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Tarcísio de Freitas (São Paulo), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Mauro Mendes (Mato Grosso). Também participaram os senadores Flávio Bolsonaro e Magno Malta, o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e o pastor Silas Malafaia, coordenador do evento.
No carro de som, os governadores Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas discursaram em defesa da anistia. Castro afirmou que o atual governo utiliza as prisões dos envolvidos nos atos como ferramenta política. Já Tarcísio declarou que os condenados receberam penas desproporcionais e que o projeto de anistia precisa ser aprovado no Congresso.
Discurso de Bolsonaro
Durante sua fala, Bolsonaro voltou a contestar as acusações de tentativa de golpe de Estado e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF), em especial o ministro Alexandre de Moraes. Ele argumentou que os condenados pelo 8 de janeiro foram vítimas de uma armadilha e que suas penas são injustas.
“Eu jamais esperava um dia estar lutando por anistia de pessoas de bem, de pessoas que não cometeram nenhum ato de maldade, que não tinham intenção, e nem poder pra fazer aquilo que estão sendo acusados”, disse.
Ele também sugeriu que a severidade das penas impostas aos envolvidos no ataque serviriam para justificar uma eventual condenação contra ele.
“Se deram 17 anos de pena para pessoas humildes, é para justificar uma pena de 28 anos para mim.”
Bolsonaro reforçou que não deixará o Brasil e pediu apoio de seus eleitores nas eleições de 2026.
“Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do nosso Brasil”, declarou.
Objetivos do protesto
O ato ocorre uma semana antes de o STF julgar uma denúncia da Procuradoria-Geral da República que pode tornar Bolsonaro réu. A manifestação também foi vista como uma tentativa de mobilizar o Congresso para aprovar o projeto de anistia aos condenados.
No carro de som, além dos pedidos de anistia, manifestantes defenderam a saída do presidente Lula e o retorno de Bolsonaro ao poder. O ex-presidente, no entanto, está inelegível até 2030 devido a condenações na Justiça Eleitoral.
A maioria dos participantes usava roupas amarelas e carregava cartazes pedindo a anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Julgamentos e condenações pelo 8 de janeiro
Até o momento, 481 pessoas já foram condenadas pelo STF. Destas, 255 receberam penas consideradas severas, chegando a 17 anos e 6 meses de prisão por crimes como golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Outras 226 receberam penas menores, como um ano de restrição de direitos por associação criminosa e incitação ao crime.
O ataque de 8 de janeiro envolveu a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Golpistas convocados por redes sociais chegaram à capital em caravanas financiadas por terceiros e se uniram a grupos que estavam acampados em frente ao Quartel-General do Exército.
Atualmente, 84 pessoas permanecem presas preventivamente, enquanto 55 cumprem prisão provisória e cinco estão em prisão domiciliar. Além disso, 61 suspeitos são considerados foragidos.
Segundo a Advocacia-Geral da União, os atos de vandalismo causaram prejuízo de R$ 26,2 milhões aos cofres públicos. Parte dos danos é irreparável, incluindo obras de arte e objetos históricos destruídos durante a invasão.
Os prejuízos no Senado somam R$ 3,5 milhões, enquanto na Câmara dos Deputados ultrapassam R$ 3 milhões. No Palácio do Planalto, os danos com obras de arte e mobiliário superam R$ 9 milhões.
O julgamento dos envolvidos continua e a possibilidade de anistia segue em discussão no Congresso.