A Corte Arbitral de Nova York decidiu que a Boeing deverá pagar US$ 150 milhões (cerca de R$ 833 milhões) à Embraer devido ao rompimento do processo de fusão entre as duas empresas em 2020. A decisão encerra uma disputa de mais de quatro anos entre as companhias, que havia sido iniciada após o cancelamento unilateral do acordo pela Boeing.
O rompimento do acordo
Anunciado em 2017, o negócio envolvia a aquisição de 80% da divisão de aviação comercial da Embraer pela Boeing, por um valor de US$ 4,2 bilhões, o que equivale a US$ 5,2 bilhões (R$ 29 bilhões) em valores atuais. A Embraer manteria os 20% restantes, com controle sobre as divisões de defesa e aviação executiva. Em 2018, o governo brasileiro aprovou a fusão, preservando uma ação preferencial na Embraer, desde sua privatização em 1994.
Contudo, em 2020, a Boeing cancelou o acordo. A Embraer então buscou reparação pelos prejuízos causados, estimados em R$ 980 milhões, devido ao processo de reorganização interna necessário para o negócio. A decisão de Nova York reconheceu os danos financeiros sofridos pela fabricante brasileira.
Impactos e desdobramentos
A Boeing alegou que a fusão não foi concluída por falhas da Embraer no cumprimento de cláusulas do acordo, justificativa que a decisão arbitral refutou. Além disso, os americanos enfrentavam à época uma crise devido aos acidentes envolvendo o modelo Boeing 737 MAX, além das dificuldades trazidas pela pandemia, que impactou severamente o setor aeroespacial.
A fusão só dependia da aprovação regulatória da União Europeia quando foi cancelada, e a única penalidade prevista em caso de não obtenção das aprovações era uma multa de US$ 100 milhões. No entanto, o rompimento aconteceu antes dessa etapa.
O clima de animosidade entre as empresas se estendeu a outros processos. O governo brasileiro e associações da indústria de defesa questionam na Justiça o recrutamento de engenheiros da Embraer por parte da Boeing, alegando abuso de poder econômico.
Situação atual das empresas
Em nota, a Boeing afirmou estar satisfeita com a conclusão do processo e destacou seus mais de 90 anos de parceria com o Brasil. Por outro lado, a Embraer publicou um fato relevante descrevendo a decisão judicial e os valores envolvidos.
Atualmente, a Boeing enfrenta uma crise reputacional devido a problemas com o 737 MAX e outros modelos, além de questões relacionadas ao desenvolvimento de sua cápsula espacial. A empresa também lida com uma greve rara em sua história. Apesar disso, permanece entre as maiores do setor, ao lado da Airbus. Em 2023, entregou 528 aviões comerciais, ficando atrás da Airbus, que entregou 735 aeronaves.
A Embraer, por sua vez, registrou lucro de R$ 164 milhões e mantém uma carteira de encomendas de R$ 103 bilhões. A empresa também continua investindo no desenvolvimento de sua linha de aviação executiva e defesa, setores que permaneceram sob seu controle após o rompimento da fusão.
No Brasil, a Boeing tem direcionado investimentos para o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis, como o SAF (Sustainable Aviation Fuel), aproveitando a expertise do país em biodiesel e etanol para transformar o Brasil em um centro mundial de produção desse tipo de combustível.