Funcionários da área de integridade relataram perseguições, afastamentos por saúde mental e tentativa de esvaziar o setor responsável por fiscalizar condutas internas. Ministério Público investiga o caso.
A BB Seguridade, empresa de seguros ligada ao Banco do Brasil, enfrenta sérias denúncias. Três funcionários da área de Controles Internos e Integridade pediram afastamento após alegarem assédio moral no ambiente de trabalho. As acusações apontam para o desmonte do setor que deveria garantir a ética e a transparência dentro da companhia.
O caso chegou ao Ministério Público do Trabalho (MPT). O órgão abriu uma apuração para investigar os relatos, que envolvem práticas como isolamento da equipe, restrição de informações e perseguição a funcionários considerados “não alinhados”.
As denúncias têm como foco o superintendente executivo de Governança, Riscos e Compliance, Maurício Azambuja, e outros gestores da empresa. Segundo os depoimentos, o objetivo seria retirar força da Superintendência de Controles Internos e Integridade (SCI).
Afastamentos, pressão e silêncio institucional
Nenhum dos profissionais da equipe original da SCI permanece no setor. Todos foram substituídos por novos funcionários. Os três ex-integrantes relataram problemas de saúde mental. Pelo menos uma funcionária teve seu afastamento reconhecido como acidente de trabalho pelo INSS.
Além disso, os relatos indicam que os casos chegaram à Ouvidoria do Banco do Brasil ainda em 2024. Porém, as respostas institucionais foram limitadas ou inexistentes, de acordo com os denunciantes.
A denúncia descreve episódios específicos. Em fevereiro de 2024, Azambuja teria afirmado em uma reunião que “regras existem para serem flexibilizadas”. A declaração teria gerado crise emocional em uma funcionária, que depois se afastou por motivos de saúde. Outro membro da equipe recebeu nota baixa em sua avaliação sem justificativa clara, segundo documentos registrados em cartório.
Com o tempo, o setor foi excluído de decisões importantes, como a revisão do regimento do Comitê de Ética. Em outro episódio, um representante da SCI teria sido retirado de uma reunião sobre denúncias internas a pedido de Azambuja.
Denúncias envolvem pressão política e favorecimento
A SCI também havia conduzido apurações delicadas. Um dos casos foi a investigação sobre brindes corporativos de alto valor entregues à cúpula da empresa. Os chamados “kits executivos”, avaliados em R$ 4 mil, teriam violado regras do código de ética. Apesar disso, ninguém foi punido. Os executivos apenas devolveram os itens.
Além disso, a equipe identificava falhas na fiscalização de novos parceiros comerciais e na gestão de contratos com empresas como Mapfre e Odontoprev.
Segundo fontes internas, a BB Seguridade sofre influência política de grupos ligados ao Centrão, inclusive antes do atual governo. Um dos nomes próximos ao bloco, André Haui, atual presidente da seguradora, chegou a ser cogitado para assumir o comando do Banco do Brasil.
Em nota, a BB Seguridade afirmou que não foi notificada pelo MPT. A empresa também reforçou seu compromisso com a ética e a governança corporativa. Segundo o comunicado, todas as denúncias recebidas são apuradas com rigor e de forma confidencial.
O Sindicato dos Bancários de Brasília acompanha o caso. Para o presidente da entidade, Eduardo Araújo, é raro ver tantos afastamentos por saúde em um único setor. Ele alerta que, em casos como esse, é comum que a empresa sofra prejuízo por condutas abusivas de alguns gestores.
Acompanhe o LatAm Reports para mais análises exclusivas sobre ética, política e economia no setor público e privado.