Uma auditoria realizada no Corinthians identificou uma série de falhas na administração dos materiais esportivos fornecidos pela Nike ao clube. O relatório aponta que a quantidade de itens retirados superou em quase 300% a cota contratual e revelou distorções que atingem desde categorias de base até setores administrativos. Embora o volume de materiais tenha crescido, partes importantes do clube seguem trabalhando com uniformes incompletos, modelos antigos ou peças em condição precária.
A investigação analisou os almoxarifados do CT Joaquim Grava e do Parque São Jorge. Segundo o documento, materiais de coleções anteriores ficaram estocados por longos períodos, sem destino definido. Além disso, foram encontradas notas fiscais não lançadas no sistema, discrepâncias de estoque e falta de controle sobre pedidos e distribuições.
O relatório afirma ainda que vários departamentos das categorias de base não receberam uniformes suficientes para treinos ou competições, o que obrigou técnicos e funcionários a racionar peças no período pré-Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Relatório cita retiradas irregulares, camisas especiais e falta de rastreabilidade
As inconsistências apontadas pela auditoria incluem retiradas diretas de materiais sem registro formal, pedidos feitos fora do fluxo padrão e repasses de peças consideradas insatisfatórias entre unidades, sem nota fiscal ou documentação. A investigação aponta que o vice-presidente Armando Mendonça aparece como figura central em diversas dessas ações, já que teria solicitado, retirado e distribuído itens sem seguir o protocolo de controle interno.
O documento também menciona a retirada de camisas especiais usadas em partidas com homenagens e parcerias promocionais, incluindo peças da ação conjunta com a NFL.
Parte desse material teria sido requisitada pelo vice-presidente. Segundo o relatório, houve inclusive cancelamentos de pedidos após a auditoria tomar conhecimento das solicitações, seguidos de retiradas não formalizadas no sistema.
A falha de gestão se refletiu até no time profissional. Às vésperas de uma partida contra o Fluminense, o Corinthians descobriu que não havia número suficiente de camisas brancas para compor o uniforme principal. Como a Nike não poderia entregar as peças a tempo, o clube pediu autorização ao adversário para jogar com o segundo uniforme. A solicitação foi atendida.
A auditoria também identificou a venda clandestina de materiais do clube. Um funcionário foi flagrado comercializando peças da Nike e admitiu a participação no esquema após ser confrontado. O relatório indica que o problema ocorria dentro e fora das dependências do Corinthians.
Armando Mendonça negou irregularidades. Em nota, afirmou que não é responsável pela definição de distribuição dos materiais, que busca melhorias no fluxo de autorização e que o relatório seria tendencioso. Também negou ter feito ameaças ou ter interferido indevidamente no processo de auditoria.
O presidente Osmar Stabile encaminhou o documento ao Conselho Deliberativo, que ficou responsável pela apuração interna. A Polícia Civil também recebeu cópia do relatório, já que mantém investigação paralela sobre os desvios.
