Áudios revelam brutalidade da quadrilha que domina bairros da Zona Oeste do Rio

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

Investigações da Delegacia de Homicídios revelaram o terror imposto pelo Comando Vermelho na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Áudios e vídeos obtidos com exclusividade pelo RJ2 mostram traficantes debatendo execuções brutais, incluindo a possibilidade de arrancar o coração de uma vítima.

Desde o início da guerra entre traficantes e milicianos pelo controle da região, em 2023, foram contabilizados quase 684 assassinatos. Só no primeiro ano do conflito, o número de homicídios cresceu 140% em relação ao ano anterior.

Entre os bairros mais afetados pela disputa estão Praça Seca, Taquara, Freguesia, Tanque, Anil e Gardênia Azul, que antes eram controlados por milicianos ou estavam fora do domínio do tráfico.

Áudios revelam execuções e domínio do crime

Em conversas gravadas, criminosos discutem a forma como realizariam assassinatos. Um deles, em diálogo com Juan Breno Malta Rodrigues, conhecido como BMW, sugere:

“Nós não tem tempo pra tirar o coração, BMW. Porque nós tá no meio do mato aqui, os ‘cana’ tá se movimentando. Nós vai picotar essa ***** toda, vai enterrar e vida que segue.”

Outro áudio revela BMW descrevendo uma execução:

“Coloquei cinco, seis [tiros]. Ele já ficou tipo em pé, tipo côco vazando. Já fui, já completei e ele já caiu.”

A polícia identificou que BMW acompanhava os assassinatos em tempo real e recebia confirmações dos comparsas após os crimes serem executados.

Expansão do tráfico e aumento da violência

A disputa pelo território começou quando um miliciano de Rio das Pedras se aliou ao Comando Vermelho e ajudou a facção a tomar o controle de Gardênia Azul. O confronto se espalhou por outros bairros, resultando em uma escalada da violência e na intensificação de crimes como extorsão a comerciantes e moradores.

“Traficantes caçam milicianos, e milicianos caçam traficantes. O número de homicídios dispara junto com outros crimes, como extorsão, que financia essa guerra”, explica o delegado adjunto da Delegacia de Homicídios, Leandro Costa.

Em um dos áudios, BMW conversa com Carlos da Costa Neves, o Gardenal, chefe do Comando Vermelho no Complexo da Penha:

“Mano, Rio das Pedras tá em chama”, diz BMW, rindo.

Na gravação, os criminosos planejam novos ataques e falam sobre incendiar vans em territórios rivais.

Enquanto os criminosos celebram seus ataques, a população da Zona Oeste vive sob intenso medo. Relatos de moradores evidenciam a gravidade da situação:

“Eles tomam casa, expulsam famílias e não acontece nada. Como é que pode?”, lamenta um residente da Taquara.

A violência impacta também o mercado imobiliário. “Imóveis que valiam R$ 1,5 milhão agora estão sendo vendidos por R$ 400 mil e ninguém compra. As pessoas estão largando tudo para trás”, diz outro morador.

Além do aumento nos roubos e assassinatos, o domínio do tráfico transformou Jacarepaguá, onde traficantes circulam fortemente armados e impõem um clima de terror.

“Se você morar em área de outra facção, é muito difícil não ser espancado ou até morto”, alerta um morador.

Muitas vítimas da guerra do crime não têm envolvimento com facções, mas são mortas por suspeita de colaboração com milicianos. Segundo a polícia, informantes indicam nomes de moradores e trabalhadores supostamente ligados à milícia, e essas pessoas acabam sendo sequestradas, interrogadas e executadas.

“Os corpos são ocultados, enterrados ou jogados na água. Em muitos casos, nem chegam a virar investigação oficial”, conclui o delegado.

O domínio do crime organizado na Zona Oeste do Rio segue crescendo, deixando moradores à mercê da violência e sem perspectiva de segurança.