O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, confirmou na sexta-feira, 19, que o governo transferiu ouro das reservas do banco central para o exterior. Em entrevista à emissora La Nación+, Caputo afirmou que manter o ouro no país seria ineficaz, comparando-o a um imóvel que não gera retorno.
“É um movimento extremamente positivo do banco central, pois hoje temos ouro que é como se fosse um imóvel, um prédio: ele fica ali e não pode ser usado de forma alguma. Se esse ouro estiver no exterior, um retorno pode ser tirado dele”, disse Caputo.
Polêmica e repercussão
Caputo não especificou o destino ou a quantidade de ouro enviada, mas a imprensa local sugere que cerca de US$ 450 milhões (R$ 2,5 bilhões) foram transferidos. A especulação sobre a movimentação do ouro cresceu após o deputado Sergio Palazzo alertar sobre o envio do metal ao exterior, solicitando informações detalhadas ao governo.
“Eu apoio a solicitação de informação pública, clara, precisa, completa e detalhada, feita ao presidente do BCRA”, escreveu Palazzo em sua conta no X (antigo Twitter), referindo-se às operações ocorridas em junho.
Críticas e riscos
Especialistas criticaram a decisão do governo, interpretando-a como um sinal de fraqueza econômica. Diego Bastourre, ex-diretor do banco central argentino, questionou a eficácia da medida, sugerindo que o ouro pode ter sido usado como garantia para obter liquidez imediata, destacando a fragilidade da situação econômica.
O economista Jorge Carrera, da Universidade de Buenos Aires, alertou sobre os riscos de enviar o ouro para jurisdições estrangeiras, lembrando casos como as reservas da Venezuela no Reino Unido, que foram atribuídas ao governo opositor.
Antes de Caputo, Javier Milei mencionou operações de “repo” (repurchase agreement) para pagamento de dívidas, o que foi criticado pelo ex-ministro da Fazenda Martín Guzmán.
“Um repo é como penhorar as joias da vovó. Você dá o ouro em troca de dólares. Logo chega a hora de devolver os dólares para recuperar o ouro. Se você não tiver os dólares, a loja de penhores (neste caso, um banco internacional) fica com o ouro”, explicou Guzmán.
A Argentina possui aproximadamente US$ 4,6 bilhões em reservas de ouro, com parte armazenada no país e outra parte em bancos no Reino Unido e na Suíça. O uso desses ativos como garantia já foi adotado em gestões anteriores, como em 2017, durante a presidência de Federico Sturzenegger no Banco Central.
A decisão de enviar ouro ao exterior reflete as dificuldades enfrentadas pelo governo Milei em acumular reservas, enquanto lida com a demora nas exportações de grãos devido à insatisfação dos agricultores com a cotação oficial do dólar.
Este movimento, embora visto por alguns como necessário, levanta preocupações sobre a estabilidade econômica e a capacidade do governo argentino de manejar suas finanças em um cenário global instável.