Após 20 anos separadas, mãe e filha em situação de rua se reconhecem por acaso em abrigo de Campinas

Durante dois meses, Cristiane Duarte da Silva e Vitória Duarte Machado dividiram conversas, refeições e o mesmo teto em um abrigo para pessoas em situação de rua, em Campinas (SP). A amizade que surgia entre elas escondia um elo ainda mais forte: um vínculo de sangue. Elas só descobriram que eram mãe e filha após uma reportagem televisiva, e o reencontro emocionou a todos.

A revelação veio por acaso. Cristiane apareceu em uma matéria da EPTV sobre um projeto de capacitação profissional oferecido por uma ONG local. Ao vê-la na televisão, um tio de Vitória a reconheceu e avisou a jovem. Vitória, então, procurou Cristiane no próprio abrigo onde ambas estavam acolhidas e confirmou: aquela mulher com quem vinha dividindo o dia a dia era, na verdade, sua mãe.

“Eu saí gritando: ‘Achei, achei, achei!'”, relembrou Vitória, de 21 anos, ao contar como descobriu que Cristiane era sua mãe. “O povo todo ficou sem entender nada”, disse, emocionada.

O reencontro comoveu o Instituto Há Esperança, que abriga cerca de 170 pessoas. A coordenadora Roberta Dantas afirma que, em mais de 25 anos de atuação na assistência social, jamais presenciou uma história tão impactante como essa.

Uma vida marcada pela dor, mas também pela esperança

Cristiane, hoje com 41 anos, viveu nas ruas após sofrer uma tentativa de abuso por parte do padrasto. Sem apoio da própria mãe, ela foi forçada a enfrentar a rua ainda jovem. Mesmo em meio à vulnerabilidade, buscou forças para se reconstruir: formou-se recentemente em confeitaria, informática e elétrica, em uma iniciativa da ONG.

Mas o maior presente da nova fase foi, sem dúvida, reencontrar a filha perdida. Cristiane conta que tentou manter contato com Vitória por anos, mas nunca obteve retorno. “Mandava cartas, procurava, mas ninguém respondia”, disse. E mesmo sem saber que estava tão perto da filha, sinais já apareciam: sem saber da ligação entre elas, Cristiane chegou a comentar com uma amiga sobre as semelhanças físicas e coincidências de nomes entre ela e Vitória.

Agora, mãe e filha sonham em recomeçar juntas. Cristiane quer trabalhar e conseguir um lugar digno para reconstruir a família. Ela ainda deseja reencontrar os outros dois filhos, Fernanda e Juliano.

“Eu dizia pra Deus: antes de morrer, preciso ver meus filhos de novo”, desabafou, com a voz embargada. O reencontro com Vitória foi o primeiro passo.