A polêmica sobre o vazamento de questões do Enem continua a crescer, e agora especialistas apontam que anular o conjunto completo de perguntas antecipadas poderia comprometer a precisão da prova de 2025. A discussão ganhou força após o g1 revelar que oito itens quase idênticos aos do exame oficial circularam meses antes da aplicação. Apesar disso, o Inep decidiu cancelar apenas três perguntas, mantendo o restante válido.
O caso envolve o estudante de medicina Edcley Teixeira, que divulgou questões em lives e grupos de WhatsApp após obter acesso prévio por meio de um pré-teste aplicado pela Capes. A partir dessa revelação, candidatos começaram a pedir a anulação integral da prova. No entanto, especialistas alertam que descartar cinco itens de matemática poderia afetar diretamente o desempenho dos participantes e o equilíbrio estatístico usado no cálculo das notas.
Dificuldade e distribuição das perguntas definem se a anulação afetaria ou não a nota final do Enem
O impacto depende do nível de dificuldade de cada item vazado. As cinco questões antecipadas estavam concentradas na prova de matemática, a área mais sensível à exclusão de itens. Conforme explicam matemáticos consultados, o problema surge quando perguntas anuladas ocupam a mesma faixa de dificuldade. Assim, se todas forem fáceis, médias ou difíceis, cria-se uma lacuna na “escala” em que o Enem se baseia. A ausência desses pontos compromete a precisão das notas, já que a TRI depende de perguntas distribuídas de forma equilibrada.
A situação muda quando os itens estão espalhados pela escala. Nesse caso, a retirada tende a ter pouco impacto. Por isso, especialistas afirmam que o Inep precisa divulgar os parâmetros psicométricos com transparência. Esses dados revelam a dificuldade, a capacidade de discriminação e o grau de acerto aleatório de cada questão.
Sem esse conjunto de informações, professores alertam que não há como saber se a prova manteve sua precisão. Além disso, pesquisadores reforçam que a divulgação ampla desses parâmetros seria essencial para garantir confiança no exame e evitar especulações que prejudiquem os candidatos.
O Inep, por outro lado, afirma que não houve risco à integridade da prova. O órgão declarou que os vazamentos seriam resultado de memorização acidental de questões usadas em pré-testes e que isso não teria força estatística para alterar o resultado final. Porém, matemáticos contestam a afirmação e afirmam que o impacto só pode ser medido por meio de simulações.
A discussão ganha peso porque o Enem usa a TRI, método sensível a variações no conjunto de itens. Quando perguntas muito próximas são excluídas, o efeito na nota pode ser grande. Esse risco aumenta quando cinco questões da mesma área são retiradas. Nesse cenário, as notas podem mudar, afetando candidatos em processos seletivos.
Especialistas também pedem mais clareza sobre o uso de itens pré-testados em avaliações públicas. Segundo eles, a segurança desse modelo precisa ser revisada, já que o episódio mostrou que o controle de sigilo pode falhar. Além disso, o caso envolve uma investigação da Polícia Federal, que apura se houve compra de acesso aos pré-testes.
O Inep diz que continuará analisando a situação e que mantém a posição de que o exame não foi prejudicado. No entanto, matemáticos defendem que a solução passa pela transparência total dos parâmetros. Eles afirmam que uma nota técnica completa poderia encerrar a polêmica e restaurar a confiança na avaliação.
