Amazônia enfrenta pior temporada de queimadas em 17 anos e corredor de fumaça atinge 10 estados

A Amazônia vive sua pior temporada de queimadas dos últimos 17 anos, com um cenário de destruição que afeta grande parte do Brasil. A floresta já registrou 59 mil focos de incêndio desde o início do ano, o maior número desde 2008. Esse aumento das queimadas, somado à seca severa, formou um denso corredor de fumaça que se espalha por 10 estados brasileiros, afetando a qualidade do ar e trazendo graves consequências para a saúde pública e o meio ambiente.

A fumaça, que cobre vastas áreas do país, é resultado não apenas dos incêndios na Amazônia, mas também de queimadas no Pantanal e na Bolívia. Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rondônia estão entre os mais afetados, com a previsão de que a situação piore nos próximos dias devido à chegada de uma frente fria que trará mais fumaça para o Centro-Sul.

Causas e consequências das queimadas

Segundo especialistas, a principal causa do aumento dos focos de incêndio é a seca severa, intensificada pelo fenômeno El Niño e o aquecimento do Oceano Atlântico, que reduziram a umidade e aumentaram as temperaturas em várias regiões do Brasil. O número de queimadas na Amazônia Legal, apenas no mês de agosto, já ultrapassa 22 mil, quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.

Além disso, áreas previamente desmatadas continuam sendo utilizadas para pastagem, o que mantém o uso do fogo como prática comum.

“A Amazônia tem mais de 800 mil quilômetros quadrados de áreas desmatadas, e o fogo continua sendo utilizado para o manejo do pasto, o que aumenta a incidência de queimadas”, explica Luiz Aragão, pesquisador do Inpe.

O impacto dessas queimadas vai além da destruição da vegetação. A fumaça densa que cobre a atmosfera é transportada por correntes de vento, viajando milhares de quilômetros e afetando a qualidade do ar em estados distantes da Amazônia. Esse fenômeno, conhecido como “corredor de fumaça”, é potencializado pelo fluxo de ventos que normalmente trariam umidade da floresta para o Sul do país, mas que, desta vez, estão carregando poluição.

Previsões e preocupações para o futuro

De acordo com o meteorologista Giovani Dolif, do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), a situação deve se agravar nos próximos dias com a chegada de uma frente fria.

“O ar frio vai comprimir o corredor de fumaça e acelerar sua chegada ao Centro-Sul do Brasil, intensificando a poluição em estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná”, alerta Dolif.

Embora a previsão indique uma possível trégua quando a frente fria empurrar a fumaça para o oceano, os especialistas alertam que a situação só será definitivamente resolvida quando os incêndios cessarem ou quando a estação chuvosa começar, o que deve ocorrer apenas no final de outubro.

Enquanto isso, o Brasil enfrenta um cenário alarmante de queimadas e seca, com mais de mil cidades em situação de estiagem, o que torna o país ainda mais vulnerável ao aumento das queimadas e à propagação de fumaça tóxica.