O aumento dos custos logísticos no Brasil, impulsionado pelo reajuste no preço do diesel e pela alta demanda de transporte para a safra recorde de soja, tem pressionado o preço dos alimentos e pode comprometer as medidas do governo para conter a inflação.
A falta de caminhões disponíveis no país, devido à grande concentração no escoamento da soja, tem atrasado outras colheitas e encarecido o frete. Em algumas regiões, os custos do transporte já subiram entre 30% e 40% em relação ao ano passado.
A situação ficou tão crítica que até a estatal Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) enfrentou dificuldades na distribuição de milho. Uma empresa de logística que venceu uma licitação para transportar 10 mil toneladas do grão solicitou a suspensão do serviço por 45 dias, alegando a escassez de caminhões e o aumento do preço do frete.
Impacto na inflação e infraestrutura precária
Paulo Bertolini, presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho), destacou que a falta de estrutura para armazenamento de grãos nas propriedades agrava ainda mais o problema. No Brasil, apenas 15% das fazendas possuem silos para armazenamento, enquanto nos Estados Unidos esse percentual ultrapassa 50%. Isso faz com que os caminhões funcionem como estoques móveis, aumentando os gargalos logísticos.
Além disso, os caminhoneiros estão preferindo trajetos mais curtos, de até 300 km, o que reduz ainda mais a disponibilidade de transporte para rotas mais longas.
Medidas emergenciais e necessidade de investimentos
Para tentar conter a alta dos preços, o governo zerou impostos de importação de alguns alimentos. No entanto, especialistas avaliam que essa é uma solução temporária e que não resolve os problemas estruturais do transporte no país.
Segundo Daniel Furlan Amaral, diretor da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), o Brasil precisa investir em infraestrutura, especialmente em hidrovias e ferrovias, seguindo o modelo adotado por países como China e Estados Unidos. No último ano, a participação das ferrovias no escoamento de grãos caiu, reforçando a dependência do transporte rodoviário.
O cenário atual indica que, sem soluções estruturais, o aumento nos custos logísticos pode continuar pressionando o preço dos alimentos e afetando diretamente o bolso dos consumidores.