O preço do ovo disparou no atacado em fevereiro em todas as regiões produtoras acompanhadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP).
Em Santa Maria de Jetibá (ES), um dos principais polos de produção do país, o valor da caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos chegou a R$ 276,54 na quarta-feira (19). Isso representa um aumento nominal de 43% em relação ao preço registrado no mesmo período do ano passado, quando era vendido a R$ 193,65.
Nesta quinta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou sobre a alta nos preços durante uma entrevista sobre a inflação dos alimentos.
“Eu sei que o ovo está caro. Quando me disseram que está R$ 40 a caixa com 30 ovos, é um absurdo. Vamos ter que fazer reunião com atacadistas para discutir como é que a gente pode trazer isso para baixo”, afirmou.
Especialistas apontam que o aumento no custo dos insumos, o calor extremo, a proximidade da Quaresma e a valorização de outras proteínas animais impulsionaram essa alta.
Quaresma, custo de produção e clima
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é comum que o preço do ovo aumente no período que antecede a Páscoa, já que muitos consumidores reduzem o consumo de carne vermelha e procuram alternativas como ovos e frango.
Tabatha Lacerda, diretora administrativa do Instituto Ovos Brasil (IOB), explica que essa alta sazonal é esperada, mas neste ano aconteceu de forma antecipada.
“O efeito da Quaresma demora um pouco para aparecer, então foi uma surpresa”, disse.
Outro fator determinante para a disparada nos preços foi o custo da ração das galinhas, que é baseada principalmente em milho. Segundo Tabatha, o preço do milho já subiu cerca de 30% desde julho de 2024.
Além disso, a ABPA destacou que o custo das embalagens aumentou mais de 100% nos últimos oito meses e que as temperaturas elevadas impactaram diretamente a produtividade das aves.
O preço do ovo vai baixar depois da quaresma?
A ABPA acredita que os preços devem se normalizar após a Quaresma, mas essa previsão não é consenso entre os especialistas.
Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, alerta que a alta nos preços das carnes bovina, suína e de frango tem impulsionado a demanda por ovos. Se essas proteínas continuarem caras, o valor dos ovos pode permanecer elevado mesmo após a Páscoa.
“O que a gente precisa monitorar é o comportamento do mercado em relação às proteínas concorrentes. Se os preços da carne bovina, de frango, seguirem em patamares muito proibitivos, mesmo depois da Quaresma, nós ainda vamos perceber o mercado de ovos inflacionado”, afirmou.
“Talvez o movimento de alta acabe perdendo intensidade, mas nós não vamos ver quedas abruptas de preço até porque a tendência deste ano é de menor produção de carne bovina”, acrescentou o analista.
Além disso, o consumo de ovos tem aumentado nos últimos anos. Segundo dados do IOB, o consumo per capita no Brasil foi de 242 ovos por pessoa em 2023 e subiu para 269 unidades em 2024. A expectativa é que esse número chegue a 272 ovos por pessoa em 2025.
“A população tem optado cada vez mais pelo ovo como uma proteína básica, antes ele era só um acompanhamento”, destacou Tabatha.